Foi o grito jubiloso dos marinheiros de Vasco da Gama quando, em
maio de 1498, eles se aproximaram da Índia e da meta de ganha
uma fortuna incalculável com condimentos que durante séculos
haviam sido monopólio dos mercados de Veneza. Na Europa
medieval um condimento, a pimenta, era tão valioso que uma libra
dessa vaga seca era suficiente para comprar a liberdade de um
servo ligado à propriedade de um nobre. Embora a pimenta figure
hoje nas mesas de jantar do mundo inteiro, a sua demanda e a das
fragrantes moléculas da canela, do cravo-da-índia, da noz-moscada
e do gengibre estimularam uma procura global que deu início à Era
dos Descobrimentos.
Capítulo 2
ÁCIDO
ASCÓRBICO
A Era dos Descobrimentos foi movida pelo comércio de
moléculas contidas nas especiarias, mas foi por falta de uma
molécula, bastante diferente, que quase a encerrou. Mais de
90% da tripulação de Magalhães não sobreviveram à sua
circunavegação de 1519-1522 – em grande parte por causa do
escorbuto, uma doença devastadora causada por uma
deficiência da molécula no ácido ascórbico, vitamina C.
Capítulo 3
GLICOSE
Como as especiarias, o açúcar foi outrora um luxo só acessível aos ricos, usado como
condimento em molhos para carne e peixe. E, como as moléculas das especiarias, a molécula do
açucar afetou o destino de países e continentes à medida que levou a Revolução Industrial,
transformando o comércio e as culturas no mundo inteiro. A glicose é um importante
componente da sacarose, a substância a que nos referimos quando falamos de açucar. O nome
dado aos açucares apresenta muitas variações: mascavo, branco, cristal, de confeiteiros, em
rama, demerara. A molécula de glicose, presente em todos esses tipos de açucar, é bastante
pequena. Tem apenas seis átomos de carbono, seis de oxigênio e 12 de hidrogênio: no total, o
mesmo número de átomos encontrados na molécula responsável pelos sabores da noz-noscada e
do cravo-da-índia. Mas, exatamente como nessas moléculas de condimentos, é o arranjo especial
dos átomos da molécula de glicose, que resulta no sabor – um doce sabor.
Capítulo 4
CELULOSE
A produção de açúcar promoveu o aumento do tráfico escravista para as Américas, mas o
açúcar não o sustentou sozinho por mais de três séculos. O cultivo de outros produtos
agrícolas vendidos no mercado europeu também dependeu da escravidão. Um deles foi o
algodão. Algodão em rama transportado para a Inglaterra podia ser convertido nas
mercadorias manufaturadas baratas que eram enviadas para a África em troca dos escravos,
que eram embarcados ali para as plantações do Novo Mundo, especialmente para o sul dos
Estados Unidos. O lucro obtido com o açúcar foi o primeiro combustível para esse triângulo
comercial e forneceu o capital inicial para a crescente industrialização inglesa.
Capítulo 5
COMPOSTOS
NITRADOS
O que fez o avental da mulher de Schönbein explodir não foi a primeira molécula
explosiva feita pelo homem, nem seria a última. Quando são muito rápidas, as reações
químicas podem ter uma energia assombrosa. A celulose é apenas uma das muitas
moléculas que alteramos para tirar proveito da sua capacidade para reação explosiva.
Alguns desses compostos foram enormemente benéficos; outros causaram ampla
destruição. Precisamente por causa de suas propriedades explosivas, essas moléculas
tiveram um efeito marcante sobre o mundo. Embora as estruturas das moléculas
explosivas variem enormemente, a maior parte delas contém um grupo nitro. Essa
pequena combinação de átomos, um nitrogênio e dois oxigênios, NO2, ligada na
posição certa, ampliou vastamente nossa capacidade de fazer guerra, mudou o destino
de nações e nos permitiu, literalmente, remover montanhas.
Capítulo 6
SEDA E NYLON
As moléculas explosivas podem parecer muito distantes das imagens de luxo, maciez, flxibilidade e
brilho que a palavra seda evoca. Mas há um vínculo químico entre os explosivos e a seda, e ele
levou ao desenvolvimento de novos materiais, novos produtos têxteis e, na altura do século XX, de
toda uma nova indústria. A seda sempre foi um tecido valorizado pelos ricos. Mesmo com a ampla
variedade de fibras naturais ou feitas pelo homem hoje disponíveis, ela continua sendo
considerada insubstituível. As propriedades que tornaram a seda tão desejável há tanto tempo — o
toque suave, a calidez no tempo frio e o frescor no tempo quente, o brilho maravilhoso — são todas
decorrentes de sua estrutura química. Em última análise, foi a estrutura química dessa notável
substância que abriu as rotas de comércio entre o Oriente e o resto do mundo conhecido.
Capítulo 7
FENOL
Na verdade, o primeiro polímero totalmente feito pelo homem foi
produzido cerca de 25 anos antes do nylon da Du Pont. Foi um material
misto feito um tanto ao acaso a partir de um composto de estrutura
química semelhante à de algumas moléculas das especiarias a que
atribuímos a Era do Descobrimentos. Esse composto, o fenol, deu início a
uma outra era, a Idade dos Plásticos. Associados a coisas tão diversas
quanto práticas cirúrgicas, elefantes ameaçados de extinção, fotografia e
orquídeas, os fenóis desempenharam um papel crucial em vários avanços
que mudaram o mundo.
Capítulo 8
ISOPRENO
Você consegue imaginar como seria o mundo sem pneus para os automóveis, caminhões e
aviões? Sem gaxetas e correias de ventilador para nossos motores, elásticos para nossas roupas,
solas impermeáveis para nossos sapatos? Que seria de nós sem artigos tão corriqueiros mas tão
úteis como elásticos? A borracha e os produtos dela derivados são tão comuns que tendemos a
não parar para pensar o que ela é e de que maneira mudou nossas vidas. Embora a humanidade
tivesse conhecimento de sua existência havia séculos, só nos últimos 150 anos a borracha se
tornou componente essencial da civilização. A estrutura química da substância lhe confere
propriedades únicas, e a manipulação química dessa estrutura produziu uma molécula com que
se fizeram fortunas, pela qual se perderam vidas e com a qual países inteiros se transformaram
para sempre.
Capítulo 9
CORANTES
Os corantes tingem nossas roupas, nossos móveis, acessórios, colorem até nosso cabelo.. As tintas e
as matérias corantes são compostas de moléculas naturais ou feitas pelo homem cujas origens
remontam a milhares de anos atrás. A descoberta e a utilização dos corantes levou à criação e
expansão das maiores companhias químicas hoje existentes no mundo. A extração e o preparo de
matérias corantes, mencionados na literatura chinesa em tempos que remontam a 3000 a.C., talvez
tenham sido as primeiras tentativas humanas de praticar a química. As tinturas mais antigas eram
obtidas principalmente das plantas: de suas raízes, folhas, cascas ou baga. Era preciso primeiro
preparar os tecidos com mordentes, compostos que ajudavam a fixar a cor na fibra. Embora as
primeiras tinturas fossem objeto de grande demanda e muito valiosas, seu uso envolvia inúmeros
problemas. Sua variedade era limitada e as cores ou não eram fortes ou desbotavam rapidamente,
tornando-se foscas e turvas à luz do sol.
Capítulo 10
REMÉDIOS
MILAGROSOS
Provavelmente William Perkin não ficaria surpreso se pudesse adivinhar que sua síntese do malva
se tornaria a base do imenso empreendimento comercial dos corantes. Afinal, ele teve tanta certeza
de que a fabricação de malva seria lucrativa que persuadiu o pai a financiar seu sonho. Mas com
certeza nem ele poderia ter previsto que seu legado incluiria um dos maiores desdobramentos da
indústria dos corantes: os produtos farmacêuticos. Em 1856, ano em que Perkin preparou a molécula
do malva, a expectativa de vida média na Grã-Bretanha estava em torno dos 45 anos. Um dos
principais fatores no aumento de duração da vida foi a introdução, no século XX, de moléculas da
química medicinal, em particular das moléculas milagrosas conhecidas como antibióticos.
Trataremos da química e do desenvolvimento de apenas dois tipos de produto farmacêutico: o
analgésico aspirina e dois exemplos de antibióticos. Historicamente, no entanto, quase não se
conheciam remédios para tratar infecções bacterianas.
Capítulo 11
A PILULA
Em meados do século XX os antibióticos e antissépticos eram de uso
corrente e haviam reduzido de maneira impressionante as taxas de
mortalidade, em particular entre mulheres e crianças. As famílias não mais
precisavam ter um enorme número de filhos para ter certeza de que alguns
iriam chegar à idade adulta. Enquanto o espectro da perda de filhos para
doenças infecciosas diminuía, crescia a demanda por medidas que
limitassem o tamanho da família por meio da contracepção. Em 1960
surgiu uma molécula anticoncepcional que desempenhou papel
fundamental no perfil da sociedade contemporânea.
Capítulo 12
MOLÉCULAS DE
BRUXARIA
------------- VERIFICAR --------
Capítulo 13
MORFINA, NICOTINA
E CAFEÍNA
Da da a tendência dos homens a desejar tudo que proporciona
sensações agradáveis, não surpreende que três diferentes moléculas
de alcaloides — a morfina da papoula, a nicotina do tabaco e a
cafeína do chá, do café e do cacau — sejam requisitadas e apreciadas
há milênios. Mas, a despeito de todos os benefícios que
proporcionaram à humanidade, essas moléculas também ofereceram
perigo. Apesar, ou talvez por causa, de sua natureza viciadora, elas
afetaram muitas e diferentes sociedades de diversas maneiras. Além
disso, as três se reuniram de modo inesperado numa interseção da
história.
Capítulo 14
ÁCIDO OLEICO
Uma definição química da condição primordial para que um produto
seja um sucesso comercial é que consista em “moléculas extremamente
desejadas e desigualmente distribuídas pelo mundo”. Muitos dos
compostos que consideramos — aqueles presentes em especiarias, chá,
café, ópio, tabaco, borracha e corantes — correspondem a essa
definição, e o mesmo pode ser dito do ácido oleico, molécula encontrada
em abundância no óleo espremido da pequena fruta verde da oliveira. O
óleo de oliva, ou azeite, um item de comércio valorizado por milhares de
anos, foi considerado o sangue das sociedades que se desenvolveram às
margens do Mediterrâneo. Enquanto civilizações se ergueram e
desmoronaram na região, a oliveira e seu óleo dourado sempre
estiveram na base de sua prosperidade e no cerne de sua cultura.
Capítulo 15
SAL
A história do sal comum — cloreto de sódio, com a fórmula química NaCl — é paralela à história da
civilização humana. O sal é tão valorizado, tão necessário e importante, que foi um ator de grande
relevo não só no comércio global como em sanções e monopólios econômicos, em guerras, no
crescimento das cidades, nos sistemas de controle social e político, nos avanços industriais e na
migração de populações. Atualmente o sal tornou-se uma espécie de enigma. É absolutamente
necessário à vida — sem ele, morremos —, mas nos dizem para tomar cuidado com o sal que
ingerimos porque pode nos matar. No entanto, durante quase toda a história registrada e
provavelmente durante séculos antes que ela fosse registrada, foi uma mercadoria preciosa e com
frequência muito cara. Uma pessoa comum no início do século XIX teria grande dificuldade em
acreditar no que hoje fazemos: jogá-lo nas estradas, aos montes, para eliminar o gelo.
Capítulo 16
COMPOSTOS
CLOROCARBÔNICOS
Em 1877 o navio Frigorifique partiu
de Buenos Aires com destino ao
porto francês de Rouen com um
carregamento de carne bovina
argentina. Hoje em dia um fato
como este seria trivial, mas o navio
transportava uma carga refrigerada,
e aquela foi uma viagem histórica:
assinalava o início da refrigeração e
o fim da preservação de alimentos
com moléculas de condimentos e
sal.
Capítulo 17
MOLÉCULAS VERSUS
MALÁRIA
Durante muitos séculos pensou-se que essa doença era causada por cerrações venenosas e vapores
deletérios emanados de pântanos baixos. Sua causa, porém, é um parasito microscópico, que talvez
seja o maior responsável por mortes humanas em todos os tempos. Ela é transmitida com rapidez
muito maior que a Aids. Segundo algumas estimativas, pacientes HIV-positivos infectam entre dois a
dez outros; cada paciente infectado com a malária pode transmitir a doença a centenas de outras
pessoas. A malária continuou a ser um problema mundial enquanto o século XX avançava. Em 1914
havia nos Estados Unidos mais de meio milhão de casos da doença. Em 1945 quase dois bilhões de
pessoas no mundo viviam em áreas maláricas, e em alguns países 10% da população estava
infectada. Nesses lugares, o absenteísmo podia chegar a 35% da força de trabalho e até 50% para os
escolares.