Memorial do Convento por José Saramago -Resumo

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Matéria Literária para o Exame Nacional de Português
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Título O título sugere memórias de um passado delimitado pela construção do convento de Mafra, com o que de grandioso e de trágico representou como símbolo do país. Relação Título/Conteúdo O título apresenta uma carga simbólica quer enquanto sugere as memórias – evocativas do passado – e pressuposições existenciais, quer ao remeter para o Mundo místico e misterioso. Ao lado da história da construção do convento, com tudo o que de grandioso e de trágico representou, surge o fantástico erudito e popular que permite a realização dos sonhos e as crenças num universo de magia. O Convento de Mafra liga-se ao sonho dos fardes que aproveitam a oportunidade de terem um convento, mas reflete, sobretudo, a magnificência da corte de D. João V e do poder absoluto, que se contrapõe ao sacrifício e à opressão do povo que nele trabalhou, muitas vezes, aniquilado para servir o sonho do seu rei. Com as memórias de uma época é um romance histórico, mas simultaneamente social ao fazer a análise das condições sociais, morais e económicas da corte e do povo.O Narrador É na generalidade, heterodiegético, isto é, um narrador de 3ª pessoa que relata a história, que estrutura os factos, mas que, embora não participando na narrativa, consegue organizá-la, manipulá-la, controlando-a através de um tom judicativo, moralista, através dos seus apartes, opiniões, tomadas de posição, comentários e ironias, tantas vezes, cáusticas. É um narrador irreverente, assume uma posição subjetiva em relação ao que narra, que não é indiferente, que reage, que se manifesta. Passa a ser um narrador homodiegético, incluindo-se a si próprio e ao narratório no fio narrativo, como acontece na apresentação de Baltasar ou na referência à passagem dos condenados no auto de fé. Quando o narrador transfere a impessoalidade da 1ª pessoa do plural para a individualidade da 1ª pessoa do singular, num discurso autodiegético ganha nova dimensão, tal como ocorre, na apresentação da mãe de Blimunda nesse mesmo auto de fé. É também um narrador, possuidor de um olhar crítico, que assume, recorrentemente a uma posição omnisciente, o que lhe permite conhecer todos os factos. Este conhecimento da História, possibilita-lhe a apropriação do passado e do futuro. O narrador recorre à focalização interna, ao assumir o ponto de vista de personagens, ora, embora raramente, à focalização externa, tornando-se mero observador.D. Maria Ana Josefa Vinda de Áustria limita-se a assumir apenas a sua função reprodutora, de modo a dar ao rei, um descendente legítimo. Funciona como o símbolo da mulher submissa, obediente e dependente, que vive uma relação fria e vazia de sentimentos com o rei, o que a leva a sentir-se frustrada, canalizando para o mundo dos sonhos a sua sexualidade reprimida. Assim, sonha com o seu cunhado, o infante D. Francisco. É uma mulher frustrada, infeliz e traída, que, apenas no mundo onírico se liberta e transgride as regras sociais e morais estipuladas. No fundo, estes sonhos acabam por dar à rainha uma dimensão menos estereotipada e mais humana. Consciente da transgressão que as fantasias com o cunhado representam aos olhos da moral, omite essa circunstância ao seu confessor, vivendo atormentada com esse pecado. Esses desvaneios terminarão quando o próprio D. Francisco, com o objetivo de alcançar o poder, lhe propuser casamento, aproveitando-se da doença do rei.D. João V D. João é caracterizado como um rei megalómano, infantil, devasso, libertino e ignorante, que não hesita em utilizar o povo, o dinheiro e a posição social para satisfazer os seus caprichos. Poderoso e rico anda preocupado com a falta de descendente, apesar de possuir bastardos. Promete “levantar um convento em Mafra” se tiver filhos da rainha Maria Ana Josefa, com quem tem relações para cumprimento de dever, em encontros frios e programados. A sua pretensão vai realizar-se com o nascimento da princesa Maria Bárbara e, apesar de deceção por não ser um menino, mantém a promessa.

Os Oprimidos O povo Personagem importante, o povo trabalhador construiu o convento de Mafra, à custa de muitos sacrifícios e mesmo de algumas mortes. Definido pelo seu trabalho, pela sua miséria física e moral, pela sua devoção, este povo humilde surge como o verdadeiro obreiro da realização do sonho de D. João V.Baltasar É um mutilado da guerra que, no início da obra, é apresentado como um homem rude, um marginal, capaz de matar, mas a partir do momento que conhece Blimunda, num auto de fé, no Rossio, transforma-se por amor. Baltasar Sete-Sóis vai ter um papel fundamental na consecução do projeto do padre Bartolomeu. Será ele que o vai materializar, que vai transformar o sonho em realidade e essa tarefa acabará por lhe restituir a sua grandeza humana, abalada com a perda da mão esquerda, dando-lhe uma nova dimensão divina, pois Bartolomeu Lourenço compara-o com Deus que “é maneta” “e fez o universo”Blimunda É uma mulher extraordinária, dotada de poderes únicos que a fazem ver o interior das pessoas e das coisas, quando está em jejum e quando não muda o quarto da lua. Tal como o padre afirma, comparado com o seu poder, voar é coisa simples. Filha de Sebastiana Maria de Jesus que fora, pela Inquisição, condenada e degredada, por ser cristã-nova, conhece Baltasar. Com capacidades de vidente e possuidora de uma sabedoria muito própria, vai ajudar na construção da passarola e partilhar com Baltasar as alegrias, tristezas e preocupações da vida. Blimunda é uma estranha vidente que vê no interior dos corpos os males que destroem a vida e consegue recolher as “vontades” vitais que permitirão o voo da passarola do padre Bartolomeu. Por amar Baltasar, Blimunda recusa usar a magia para conhecer o seu interior. O poder de Blimunda permite, simultaneamente, curar e criar, ou melhor, ver o que está no mundo, as verdades mais profundas que o sustentam. Bartolomeu Lourenço, compreendendo perfeitamente, a complementaridade deste casal, batiza de Blimunda de Sete-Luas “Tu és Sete-Sóis porque vês às claras, tu serás Sete-Luas porque vês às escuras”.Padre Bartolomeu Lourenço O sonho da passarola voadora e a sua futura realidade apresentam o padre Bartolomeu como um homem que só conseguirá evitar a inquisição pela amizade que lhe tem o rei D. João V, que também possui o sonho e a esperança da máquina voadora. Ajudado por Baltasar e Blimunda e, por vezes, com a companhia de Domenico que ao som do cravo sonhava e ajudava a sonhar, o padre Bartolomeu construiu a sua obra.Domenico Scarlatti É o músico italiano, exímio executante de cravo, que vem para Portugal para dar aulas de música à infanta e que, fascinado pelo sonho do padre, se transformará no quarto elemento a dar um contributo para a concretização do projeto de voar. Junta-se à trindade terrestre, partilhando o seu segredo e, no momento em que a passarola se eleva no ar, Scarlatti, que tinha levado um cravo para a abegoaria, associa a sua música a esse instante, atirando, em seguida, o seu cravo para o fundo de um poço para esconder da Inquisição a sua ligação ao projeto do padre. O maestro acompanhou o processo de construção da passarola, interpretando o seu instrumento e foi também a sua música que curou Blimunda e que lhe restituiu a vontade de viver. Depois de recolher as vontades dos vivos, por ocasião da febre-amarela e da cólera em Lisboa, Blimunda fica muito debilitada e a música funcionará como a salvação.Trindade Terrestre Os três elementos que constituem este conjunto, e cujo nome começa pela letra B emprestaram parte de si à construção da passarola e vão sofrer as consequências dessa entrega. Baltasar e Blimunda apropriam-se do sonho do padre, tornam-no como seu e dão-lhe uma nova dimensão. Partilham com o padre as dúvidas, as alegrias, o sofrimento e as consequências. Vão sofrer, como se a sua ousadia de querer voar merecesse um castigo: o padre enlouquece e morre, Baltasar é queimado num auto de fé e Blimunda assiste à morte do seu homem, depois de uma busca dolorosa de nove anos. Apesar de ser o mentor do projeto, quando a passarola cai no Monte Junto, o padre, enlouquecido, tenta destruir a sua máquina e foge, deixando ao casal o encargo de a manter escondida do Santo Ofício, mas em condições de voar. Podemos comparar, por oposição, a construção do convento, fruto da vaidade de um homem e realizado, coercivamente, por outros, com a construção da passarola, fruto do sonho de um homem, partilhado com outros. A construção do convento remete para um universo de egoísmo, de humilhação e de repressão, pelo contrário, o projeto de Bartolomeu Lourenço espalha a capacidade de sonhar, de acreditar nos outros e na grandeza do homem.A História de Manuel Milho A história, que Manuel Milho vai contando, durante os vários dias que dura o transporte da pedra Benedictione, é uma reflexão sobre a existência humana e mostra que, no fundo, o mais importante é o ser humano e a sua essência. Manuel Milho narra a história de uma rainha que gostaria de ser mulher para conseguir decidir se, na verdade, queria ser ou não rainha, e de um ermitão que queria ser homem. Ambos desejavam não ser o que eram, mas ser apenas um homem e uma mulher. Esta história mostra que cada um é aquilo que as condições sociais e as circunstâncias permitem que o seja (capítulo XIX).Três Representa a ordem espiritual e intelectual, é o número perfeito, a expressão da totalidade. Para o cristianismo, os três elementos da trindade são o Pai, o Filho e o Espírito Santo, um só Deus em três pessoas, tal como Baltasar, Blimunda e Bartolomeu Lourenço que constituem a Trindade Terrestre, três pessoas em perfeita comunhão que alcançam um poder divino e uno.Sete Muito referido na Bíblia, surge recorrentemente na obra, sete são os homens que vêm trabalhar para Mafra no convento, oriundos de sete regiões do país; sete bispos batizam a infanta; sete vezes Blimunda vai a Lisboa à procura de Baltasar e o número sete repete-se na data da bênção da primeira pedra do convento – 17 de novembro de 1771. O sete é o resultado do número perfeito, o três e, do número da totalidade, o quatro e, representa a totalidade do espaço e do tempo, do universo em movimento. É o número de dias de cada ciclo lunar, que regula os ciclos de vida e da morte na Terra. Símbolo de sabedoria e de descanso no fim da criação.Nove Número da procura, da gestação, simboliza o coroar do esforço, o fim de um ato criativo, o fim de um período de busca frutuosa, como acontece com Blimunda que, durante nove anos, procurou o seu amado. Após a separação, Blimunda reencontra Baltasar e, recolhendo a sua vontade, une-se àquele que ama. Esta união representa a vitória do poder do amor.A passarola Funciona como o elo de ligação entre a terra e o céu, e surge, na obra, metaforicamente, referida como uma ave, o que remete, de imediato, para o voo das aves. O sonho de voar conota a ousadia e a conquista, mas pode ter um lado negativo: a queda, a desilusão.O ovo A máquina inventada pelo padre Bartolomeu aparece também designada por ovo, elemento que simboliza a origem, o nascimento. Como que protegido de qualquer ameaça, o casal vive no seu interior momentos de amor intenso. O ovo pode ser interpretado simultaneamente como um espaço de segurança e como a renovação constante do amor.Convento Símbolo do definitivo, do imutável, do eterno e, nesse sentido, opõe-se à passarola. É evidente o contraste entre o caráter libertador do projeto de Bartolomeu de Gusmão, que evidencia a atitude criadora do homem e a capacidade de vencer barreiras quando trabalha em conjunto, e a natureza opressora da promessa do rei, que espelha uma vontade egoísta e megalómana. Os olhos/O olhar Ocupam um espaço privilegiado devido ao poder visionário de Blimunda. O seu olhar mágico seduz Baltasar e será muitas vezes uma forma de comunicação entre o casal. Espigão O espigão de Baltasar de que Blimunda se serve para se defender, no Monte Junto, da tentativa de violação, presentifica o próprio Baltasar. É, como se, na sua ausência, tivesse ficado para salvar Blimunda a “mão” do seu amor.Mutilação de Baltasar Aparece frequentemente como uma marca de inaptidão e de marginalidade, todavia, na obra, Baltasar conseguirá superar a sua incapacidade ao contribuir para construir a passarola e o convento.Sonho É o espaço onde as personagens deixam transparecer as suas emoções, medos, frustrações, desejos, funcionando, por vezes, como um fator de equilíbrio, como é o caso da rainha, que compensa, no mundo onírico, as suas frustrações afetivas e sexuais. Em relação ao rei, os sonhos espelham, acima de tudo, a manifestação do seu poder. Os sonhos comuns de Baltasar, Blimunda e Bartolomeu são uma forma de sublinhar a sua cumplicidade e partilha. Música Simboliza a harmonia e a plenitude do cosmos. A música de Scarlatti representa a comunicação e tem o poder de curar. O som do seu cravo irá fascinar o padre e acompanhar o processo de construção da passarola e o momento em que ela se eleva no céu.Pedra/A mãe pedra Símbolo da Terra-Mãe exige um esforço enorme por parte dos trabalhadores que, com coragem, força, habilidade e inteligência e vão transportar de Pero-Pinheiro até Mafra. É uma laje descomunal que evidencia a pequenez do homem, mas que comparativamente ao convento se torna pequena. Conseguir transportar a pedra até ao seu destino, vai transformar estes homens em verdadeiros heróis. A pedra, pela sua firmeza, também se pode associar à sabedoria. Abegoaria É o espaço escondido onde se constrói a passarola, onde se materializa o sonho. É o espaço da utopia, da invenção, da descoberta, da partilha e da amizade. Sangue Símbolo de vida.Montanha (Monte Junto) Estabelece a relação da terra com o céu, centro do mundo, traduz a estabilidade e a inalterabilidade, guardando o que nela permanece, como a passarola que cai no Monte Junto. A máquina voadora ficou protegida dos homens e do Santo Ofício e, assim, mais tarde, inusitadamente e, como por magia, levantou voo, dando sentido à vida da trindade terrestre. Fogo É conforto, aconchego, purificação e regeneração, mas também destruição. O fogo da lareira, em casa de Blimunda, é proteção e bem-estar; o fogo que Bartolomeu Lourenço lança à sua máquina é uma forma de destruir o seu sonho fracassado; o da fogueira dos autos de fé é opressão, destruição e morte.Sete-Sóis e Sete-Luas Os nomes de Baltasar e de Blimunda têm o mesmo número de letras, começam por B e as alcunhas deles são uma forma de mostrar a sua complementaridade. Baltasar está relacionado com o Sol, fonte de luz, de calor e de vida, enquanto Blimunda surge relacionada com a lua, símbolo da dependência, da periodicidade e da renovação. A lua marca o ritmo biológico da mulher e o seu poder está, na verdade, dependente das fases da lua. A vida dela necessita da presença de Baltasar, mas o contrário também é verdadeiro, o que dá uma nova perspetiva a esta correlação. Os dois formam um só ser, como se as particularidades/defeitos de um fossem colmatadas pelo outro. Estas alcunhas aparecem associadas ao número sete que representa perfeição que, no caso, apenas se atinge em conjunto. Eles são perfeitos porque se amam e se entregam sem reservas a esse amor.Estilo de Linguagem Linguagem barroca – marcada pela presença de pormenores exaustivos aquando, por exemplo, da explicação da estrutura do sermão; pelo uso frequente da anástrofe, invertendo a ordem natural dos elementos da frase “Vestem o rei e a rainha camisas compridas”; pelos trocadilhos, os jogos de palavras e conceitos; pela metáfora sugestiva e pela comparação que aparecem, muitas vezes, em série; pelo enorme visualismo, onde as notações são evidentes; pelas muitas personificações e antíteses que semeiam o texto. Enumeração Polissíndeto Utilização do registo de língua familiar e mesmo popular ao serviço da ironia ou como caracterização das personagens, traduzindo o seu nível social Formas verbais no presente do indicativo (transportando o leitor pra o tempo da narrativa) e no futuro (o narrador dá-nos a conhecer de forma antecipados acontecimentos e o rumo das personagens) e só muito raramente no pretérito perfeito e imperfeito que são os tempos da narrativa. Uso do Superlativo Sintético Incorporação de Referências Religiosas que têm a ver com as práticas culturais portuguesas e com os ensinamentos da doutrina aprendidos na infância, sendo que as referências bíblicas são atualizadas e até subvertidas Referências históricas e geográficas que pressupõem que o leitor do romance seja conterrâneo do escritor ou que conheça bem o seu país Intextualidade quando cita versos conhecidos de Camões ou de Fernando Pessoa (sem indicação de fonte), por vezes ligeiramente modificados (referência ao Adamastor, ao Velho do Restelo) e que, normalmente, aparecem servindo a intenção crítica de Saramago Uso de Aforismos e provérbios, nem sempre usados na sua forma original “ainda agora a procissão vai na praça” Uso de neologismo “ladainhando” Ironia Transgressão da norma linguística com a alteração da sua expressão gráfica e pontual: suprime os dois pontos/parágrafo/travessão, como suprime os pontos de interrogação e de exclamação, os dois pontos ou o ponto e vírgula, oferecendo os diálogos como uma sequência de frases de escrita muito clara, de cariz oral, produzida por alguém que se coloca na posição de quem fala. Tudo isto acentuado por uma cadência rítmica que faz parecer o entrelaçar da narrativa saramaguiana aparentemente casual. Aliás, a coexistência dos diferentes modos de expressão – discurso direto, discurso indireto e discurso indireto livre, apartes e monólogos – ao tornarem as frases mais longas, aproxima-as também da oralidade Recurso a termos anacrónicos Interpelação direta ao leitor, criando uma enorme cumplicidade com ele e mantendo-o preso à narrativa. Memorial do Convento evoca a História portuguesa do reinado de D. João V. no século XVIII, procurando uma ponte com as situações políticas de meados do século XX. Durante o reinado de D. João V, o rigor e as perseguições do Santo Oficio aumentam com vítimas que tanto podem ser cristãos-novos como todos os considerados culpados de heresias, por se associarem a práticas mágicas ou de superstição. Memorial do Convento caracteriza uma época de excessos e diferenças sociais, que se mantêm na atualidade: opulência/miséria; poder/opressão; devassidão/penitência; sagrado/profano; amor ausente/amor sincero… Memorial do Convento é uma narrativa histórica que entrelaça personagens e acontecimentos verídicos com seres conseguidos pela ficção. Romance histórico, oferece-nos uma minuciosa descrição da sociedade portuguesa no início do século XVIII; romance social, dentro da linha neorrealista, preocupa-se com a realidade social, em que sobressai o operariado oprimido; romance de intervenção, visa denunciar a história repressiva portuguesa na primeira metade do século XX; romance de espaço, representa uma época, interessando-se por traduzir não apenas o ambiente histórico, mas também vários quadros sociais que permitem um melhor conhecimento do ser humano. Existem duas linhas condutoras da ação: a construção do convento de Mafra e as relações entre Baltazar e Blimunda. A ação principal é a construção do convento de Mafra, que entrelaça o desejo megalómano do rei com o sofrimento do povo. Paralelamente à ação principal, encontra-se uma ação que envolve Baltazar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas, numa história de espiritualidade, de ternura, de misticismo e de magia. As duas ações, que se encaixam, sugerem uma profunda humanidade trágica. Os espaços físicos e sociais privilegiados são Lisboa e Mafra.As personagens servem a própria intenção do autor na necessidade de repensar os acontecimentos e as figuras históricas à luz de uma nova realidade criada no presente e pressentida no futuro.As personagens femininas adquirem, na obra, claro relevo: D. Maria Ana é a rainha triste e insatisfeita, que vive um casamento de aparecia e com escrúpulos morais nas relações sexuais e nos sonhos; Blimunda é a mulher com capacidades de vidente e possuidora de uma sabedoria muito própria, cheia de sensualidade e amor verdadeiro. Saramago rejeita a omnipotência do narrador, na medida em que considera que o é o autor que põe em causa o presente que conhece e o passado que lhe chega através das suas investigações. Para Saramago a omnipotência do narrador é pura ficção. Uma voz narrativa controla a ação narrada, as motivações e os pensamentos das personagens, mas faz também as suas reflexões e juízos valorativos. A historia torna-se matéria simbólica para refletir sobre o presente, na perspetive da denuncia e dela extrair uma moralidade que sirva para o futuro.Observando Memorial do Convento, julgamos que a escrita saramaguiana persegue uma preocupação com o ser humano, a sua miséria e a sua luta, as injustiças e os seus anseios, a sua grandeza e os seus limites. Em Memorial do Convento há, diversas vezes, um discurso de sobreposições narrativas com uma voz que tanto descreve como desconstrói as situações, que dialoga com o narratário ou manuseia as personagens como títeres, que domina os conhecimentos da historia ou se sente limitado, que faz ponderações ou ironizaClassificação (tipo de romance)Romance histórico, social e de espaço que articula o plano da história com o plano do fantástico e da ficção. O título sugere memórias de um passado delimitado pela construção do convento de Mafra e memórias do que de grandioso e trágico tem o símbolo do país. Como ROMANCE HISTÓRICO, oferece-nos: uma minuciosa descrição da sociedade portuguesa da época, a sumptuosidade da corte, a exploração dos operários, referências à Guerra da Sucessão, autos de fé, construção do convento, construção da passarola pelo Padre Bartolomeu de Gusmão. Como ROMANCE SOCIAL, é crónica de costumes. Como ROMANCE DE INTERVENÇÃO, pois apresenta-nos a história repressiva portuguesa.Categorias da NarrativaAção O rei D. João V, Baltasar, Blimunda e o padre Bartolomeu de Gusmão protagonizam as diversas ações que se entretecem em Memorial do Convento. A ação principal é a construção do Convento de Mafra: entrelaçamento de dados históricos com a promessa de D. João V e o sofrimento do povo que trabalhou no Convento. Conhece-se a situação económica e social do país, os autos de fé praticados pela Inquisição, o sonho e a construção da passarola, as criticas ao comportamento do clero. Paralelamente à ação principal, encontra-se uma ação que envolve Baltasar e Blimunda: fio condutor da intriga e que lhe conferem fragmentos de espiritualidade, de ternura, de misticismo e de magia. Espaço Físico: dois dos espaços físicos onde se desenrola a ação são: * Lisboa – espaço fulcral onde se destacam outros micro espaços: 1. Terreiro do Paço: local onde Baltasar trabalha num açougue, após a sua chegada a Lisboa. É onde decorre a procissão do Corpo de Deus. 2. Rossio: aparece no início da obra como o local onde decorrem o auto de fé e a procissão do Corpo de Deus. 3. As ruas da capital: espaço onde o povo oprimido e ignorante sofre e, paradoxalmente vibra com as desgraças dos seus iguais e onde vive as principais celebrações do calendário religioso. 4. S. Sebastião da Pedreira: espaço escolhido para a construção da passarola; é o único espaço que escapa ao poder opressor da igreja e à rígida hierarquia social da época. * Mafra: espaço escolhido para a construção do Convento, particularmente Vela, que deu lugar à Vila Nova, à volta do edifício. Nos arredores da obra surge a “ilha madeira” – local onde se alojam os trabalhadores. Social: é relatado através de determinados momentos e do percurso de personagens que tipificam um determinado grupo social, caracterizando-o. A nível da construção social destaca-se os seguintes momentos: Ø Procissão da Quaresma 1. Excessos praticados durante o Entrudo (satisfação dos prazeres carnais) e brincadeiras carnavalescas – as pessoas comiam e bebiam demasiado, atiravam água à cara umas das outras, batiam nas mais desprevenidas, tocavam gaitas, espojavam-se nas ruas. 2. Penitencia física e mortificação da alma após os desregramentos durante o Entrudo. 3. Descrição da procissão 4. Manifestações de fé que tocavam a histeria enquanto o bispo faz sinais da cruz e um acólito balança o incensório; os penitentes recorrem à autoflagelaçao.Visão do narrador: O narrador afirma que apesar da tentativa de purificação através do incenso, Lisboa permanecia uma cidade suja, caótica e as suas gentes eram dominadas pela hipocrisia. Ø Autos de fé 1. O Rossio está novamente cheio de gente: a população esta duplamente em festa, porque é domingo e porque vai assistir a um auto de fé. 2. A assistência feminina, à janela exibe-se e preocupa-se com pormenores fúteis relativos à sua aparência física, e aproveita a ocasião para se entregar a jogos de sedução. 3. A proximidade coma morte dos condenados constitui o motivo do ambiente de festa. 4. Inicio da relação entre Baltasar e Blimunda 5. Punição dos condenados pelo Santo Oficio – o povo dança em frente das fogueiras.

Visão do narrador: O narrador revela a sua dificuldade em perceber se o povo gosta mais de autos de fé ou de touradas, evidenciando de forma irónica o gosto sanguinário e procura nas emoções fortes uma forma de preencher o vazio da sua existência que o povo releva.Ø Tourada Visão do narrador: O espetáculo começa e o narrador enfatiza a forma como os touros são torturados: exibição do sangue, das feridas, das tripas em publico; A sua ironia é ainda traduzida pela constatação de que, em Lisboa, as pessoas não estranham o cheiro a carne queimada, acrescentando numa perspetiva crítica que a morte dos judeus é positiva, pois os seus bens são deixados à Coroa.Ø Procissão do Corpo de Deus Preparação da procissão: O povo sente-se maravilhado com a riqueza da decoração. As damas aparecem às janelas, exibindo penteados. À noite, passam pessoas que tocam e dançam, improvisa-se uma tourada. Durante a madrugada reúnem-se aqueles que formarão a procissão. Realização da procissão: O evento começa de manhã cedo Descrição do aparato: à frente as bandeiras, seguidas dos tambores, trombeteiros, as irmandades, o estandarte do Santíssimo Sacramento, as comunidades e o rei, atrás Cristo crucificado e hinos sacros. Visão do narrador: Censura o luxo da igreja e do rei Histeria coletiva das pessoas que se batem a si próprias e aos outros como manifestação da sua condição de pecadores. Síntese (Procissão da Quaresma, autos de fé e Procissão do Corpo de Deus) As procissões e os autos de fé caracterizam Lisboa como um espaço caótico, dominado por rituais religiosos cujo efeito exorcizante esconjura um mal momentâneo que motiva a exaltação absurda que envolve os habitantes. A desmistificação dos dogmas e acrítica irónica do narrador ao clero subjazem ao ideário marxista que condena visão redutora do mundo que a igreja apresenta, que condiciona os comportamentos, manipula os sentimentos e conduz os fiéis a atitudes estereotipadas. A violência das touradas ou dos autos de fé apraz ao povo que, obscuro e ignorante, se diverte sensualmente com as imagens de morte, esquecendo a miséria em que vive. Ø O trabalho do Povo no Convento Mafra simboliza o espaço de servidão desumana a que D. João V sujeitou todos os seus súbditos para alimentar a sua vaidade. Vivendo em condições deploráveis, os trabalhadores foram obrigados a abandonar as suas casa e a erigir o convento para cumprir a promessa do seu rei e aumentar a sua glória.

Capítulo I Anúncio da ida de D. João V ao quarto da rainha. Desejo de D. Maria Ana: satisfazer o desejo do rei de ter um herdeiro para o reino. Passatempo do rei: construção, em miniatura, da Basílica de S. Pedro de Roma. Premonição de um franciscano: o rei terá um filho se erguer um convento franciscano em Mafra. Promessa do rei: mandar construir um convento se a rainha lhe der um filho no prazo de um ano. Chegada do Rei ao quarto da rainha, decidido a ver cumprida a promessa feita a Frei António de S. José. Capítulo II Referência a milagres franciscanos que auguram a promessa real: história de Frei Miguel da Anunciação (o corpo que não corrompia e os milagres); história de Sto. António (seus milagres e castigos); os precedentes franciscanos. Visão crítica do narrador face às promessas e milagres dos franciscanos: o mundo marcado por excesso de riqueza e extrema pobreza. Capítulo III Reflexões sobre Lisboa: condições de vida; visão abjeta da cidade no Entrudo; crítica a hábitos religiosos, à procissão da penitência, à Quaresma. O estado de gravidez da rainha (da condição de mulher comum à sua infinita religiosidade). O sonho da rainha com o cunhado (tópico da traição). Capítulo IV Apresentação de Baltasar Mateus: Sete-Sóis, 26 anos, natural de Mafra, maneta à esquerda, na sequência da Batalha de Jerez de los Caballeros (Espanha). Estada em Évora, onde pede esmola para pagar um gancho de ferro e poder substituir a mão Percurso até Lisboa, onde vive muitas dificuldades. Indecisão de Baltasar: regressar a Mafra ou dirigir-se ao Terreiro do Paço (Lisboa) e pedir dinheiro pela mutilação na guerra. Encontro de Baltasar Sete-Sóis com um amigo, antigo soldado: João Elvas. Referências ao crime na cidade lisboeta e ao Limoeiro. Capítulo V Fragilidade de D. Maria Ana, com a gravidez e com a morte do seu irmão José (imperador da Áustria). Apresentação de Sebastiana Maria de Jesus, mãe de Blimunda (Sete Luas) - condenada ao degredo (Angola), por ter visões e revelações. Espetáculo do auto de fé assistido por Blimunda, na companhia do padre Bartolomeu Lourenço. Proximidade de Baltasar Mateus (Sete-Sóis), que trava conhecimento com Blimunda assim que esta lhe pergunta o nome. Paixão de Baltasar pelos olhos de Blimunda. União de Bartolomeu Lourenço, Blimunda e Baltasar, após o auto de fé, tendo o ex-soldado acompanhado o padre e Blimunda a casa desta, onde comeram uma sopa. Apresentação de Blimunda como vidente (quando está em jejum vê as pessoas “por dentro”). Consumação do amor de Baltasar e Blimunda (19 anos, virgem), com esta a prometer que nunca o olhará por dentro. Capítulo VI Visão crítica das leis comerciais. Narrativa de João Elvas, a Baltasar, sobre um suposto ataque dos franceses a Lisboa (que mais não era do que a chegada de uma frota com bacalhau). Conflito de Baltasar: saber a cor dos olhos de Blimunda. Deslocação do Padre Bartolomeu Lourenço ao Paço para interceder por Baltasar (a fim de este receber uma pensão de guerra) e compromisso de falar com o Rei, caso tarde a resposta. Apresentação, por João Elvas, de Bartolomeu Lourenço como o Voador (as diversas tentativas levadas a cabo pelo padre para voar, justificando-se, este, que a necessidade está na base das conquistas do homem; o conhecimento da mãe de Blimunda, dadas as visões que esta tinha de pessoas a voar). Questão de Baltasar ao padre: o facto de Blimunda comer pão, de manhã, antes de abrir os olhos. Apresentação da passarola a Baltasar, pelo Padre B. Lourenço (S. Sebastião da Pedreira). Descrição da passarola, a partir do desenho que o padre mostra a Baltasar. Convite do Padre para que Baltasar o ajude na construção da passarola. Capítulo VII Trabalho de Baltasar num açougue. Evolução da gravidez da rainha, tendo o rei de se contentar com uma menina. Rendição das frotas portuguesas do Brasil aos franceses. Visita de Baltasar e Blimunda à zona enfeitada para o batismo da princesa, estando aquele mais cansado do que habitualmente, por carregar tanta carne para o evento. Morte do frade que formulou a promessa real; fidelidade de D. João V à promessa. Capítulo VIII Relação amorosa de Baltasar e Blimunda. Procura de Baltasar a propósito do misterioso acordar de Blimunda: esta conta-lhe que, em jejum, consegue ver o interior das pessoas; daí comer o pão ao acordar para não ver o interior de Baltasar. Indicação de Blimunda, a Baltasar, acerca do seu dom: vê o interior dos outros e “vê” a nova gravidez da rainha. Falha na obtenção da tença pedida ao Paço para Baltasar e despedimento do local onde este trabalhava (açougue). Nascimento do segundo filho do rei, o infante D. Pedro. Deslocação de El-rei a Mafra, para escolher a localização do convento (um alto a que chamam Vela). Capítulo IX Auxílio de Baltasar ao padre Lourenço na construção da passarola, tendo-lhe este dado a chave da quinta do duque de Aveiro, onde se encontra a “máquina de voar”. Visita de Baltasar à quinta, acompanhado de Blimunda. Inspeção de Blimunda, em jejum, à máquina em construção para descobrir as suas fragilidades. Atribuição, pelo Padre B. Lourenço, dos apelidos de Sete-Sóis e Sete-Luas, respetivamente, a Baltasar e a Blimunda (ele vê “às claras” e ela “vê às escuras”). Deslocação do Padre à Holanda, para aprender com os alquimistas a fazer descer o éter das nuvens (necessário para fazer voar a passarola). Realização de novo auto de fé, mas Baltasar e Blimunda permanecem em S. Sebastião da Pedreira. Partida de Baltasar e Blimunda para Mafra e do padre para a Holanda, ficando aqueles responsáveis pela passarola. Ida à tourada, antes de Baltasar e Blimunda partirem de Lisboa. Capítulo X Visita de Baltasar à família, com apresentação de Blimunda e explicação da perda da mão. Vivência conjunta e harmoniosa na família de Baltasar. Venda das terras do pai de Baltasar, por causa da construção do convento. Trabalho procurado por Baltasar. Comparação entre a morte e o funeral do filho de dois anos da irmã de Baltasar e a morte do infante D. Pedro. Nova gravidez da rainha, desta vez do futuro rei. Comparação dos encontros de Baltasar com Blimunda e do rei com a rainha. A frequência dos desmaios do rei e a preocupação da rainha. O desejo de D. Francisco, irmão do rei, casar com a rainha, à morte deste. Capítulo XI Regresso de Bartolomeu Lourenço da Holanda, passados três anos, e o abandono da abegoaria (quinta de S. Sebastião da Pedreira). Constatação do padre de que Baltasar cuidara da passarola, conforme lhe havia pedido. Deslocação a Coimbra, passando por Mafra para saber de Baltasar e Blimunda. Reflexão sobre o papel que cada um tem na construção do futuro, não estando este apenas nas mãos de Deus. Atribuição de bênção a quem a pede, deparando o padre, no caminho para Mafra, com trabalhadores (comparados a formigas). Conversa do Padre com um pároco, ficando a saber que Baltasar e Blimunda casaram e onde vivem. Visita do padre ao casal de amigos e conversa sobre a passarola. Bartolomeu Lourenço na casa do padre Francisco Gonçalves, a pernoitar. Encontro de Blimunda e Baltasar com padre B. Lourenço, de manhã muito cedo, quando ela ainda está em jejum. Apresentação, a Baltasar e Blimunda, do resultado de aprendizagem do Padre na Holanda: o éter que fará voar a passarola vive dentro das pessoas (não é a alma dos mortos, mas a vontade dos vivos). Pedido de auxílio do Padre a Blimunda: ver a vontade dos homens (esta consegue ver a vontade do padre) e colhê-la num frasco. Deslocação de Bartolomeu Lourenço a Coimbra para aprofundar os seus estudos e se tornar doutor. Ida de Blimunda e Baltasar para Lisboa: ela, para recolher as vontades; ele, para construir a passarola Capítulo XII Tomada da hóstia, em jejum: Blimunda descobre que o que está dentro desta é o mesmo que está dentro do homem – a religião. Festividades da inauguração da construção do convento e do lançamento da primeira pedra (três dias), a ter lugar numa igreja–tenda ricamente decorada e com a presença de D. João V. Baltasar e Blimunda na inauguração. Passada uma semana, partida do casal para Lisboa. Capítulo XIII Verificação de Baltasar relativamente ao estado enferrujado da máquina, seguida dos arranjos necessários e da construção de uma forja enquanto o padre não chega. Chegada do padre, dizendo a Blimunda que serão necessárias, pelo menos, duas mil vontades para a passarola voar (tendo ela apenas recolhido cerca de trinta). Conselho do Padre para que Blimunda recolha vontades na procissão do Corpo de Deus. Regresso do Padre a Coimbra para concluir os seus estudos. Trabalho de Baltasar e Blimunda na máquina, durante o inverno e a primavera, e chegada, por vezes, do padre com esferas de âmbar amarelo (que guardava numa arca). Perspetivas de a procissão do Corpo de Deus ser diferente do normal. Perda da capacidade visionária de Blimunda, com a chegada da lua nova. Saída da procissão (8 de junho de 1719) – só no dia seguinte, com a mudança da lua, Blimunda recupera o seu poder. Capítulo XIV Regresso do Padre Bartolomeu Lourenço de Coimbra, doutor em cânones. Novo estatuto do padre: fidalgo capelão do rei, vivendo nas varandas do Terreiro do Paço. Relação do padre com o rei: este apoia a aventura da passarola, exprimindo o desejo de voar nela. Lição de música (cravo) da infanta D. Maria Bárbara (8 anos), sendo o seu professor o maestro Domenico Scarlatti. Conversa do padre com Scarlatti, depois da lição. Audição, em toda a Lisboa, de Scarlatti a tocar cravo, em privado. Scarlatti em S. Sebastião da Pedreira, a convite de Bartolomeu Lourenço (após dez anos de Baltasar e Blimunda terem entrado na quinta). Apresentação a Scarlatti do casal e da máquina de voar. Convite a Scarlatti para visitar a quinta sempre que quiser. Ensaio do sermão de Bartolomeu Lourenço para o Corpo de Deus (tema: Et ego in illo). Capítulo XV Censura do sermão de Bartolomeu Lourenço por um consultor do Santo Ofício. S. Sebastião da Pedreira recebe o cravo de Scarlatti. Vontade de Scarlatti voar na passarola e tocar no céu. Ida de Baltasar e Blimunda a Lisboa (dominada pela peste), à procura de vontades. Doença estranha de Blimunda, após a recolha de duas mil vontades. Apoio de Baltasar e recuperação de Blimunda após audição da música de Scarlatti. Encontro do casal com o padre Bartolomeu Lourenço. Remorsos de Bartolomeu Lourenço por ter colocado Blimunda em perigo de vida. Vontade de Bartolomeu Lourenço informar o rei de que a máquina está pronta, não sem a experimentar primeiro. Capítulo XVI Reflexão sobre o valor da justiça. Morte de D. Miguel, irmão do rei, devido a naufrágio. Necessidade de o Rei devolver a quinta de S. Sebastião da Pedreira ao Duque de Aveiro, após anos de discussão na Justiça. Vontade do Padre experimentar a máquina para, depois, a apresentar ao rei. Receio do Padre face ao Santo Ofício: o voo entendido como arte demoníaca. Fuga do Padre, procurado pela Inquisição, na passarola. Destruição da abegoaria para a passarola poder voar. Voo da máquina com o Padre, Baltasar e Blimunda e descrição de Lisboa vista do céu. Abandono do cravo num poço da quinta para Scarlatti não ser perseguido pelo Santo Ofício. Perseguição de Bartolomeu Lourenço pela Inquisição. Divisão de tarefas na passarola e preocupação do Padre: se faltar o vento a passarola começa a cair e o mesmo acontecerá quando o sol se puser. Visão de Mafra a partir do céu: a obra do convento, o mar. Ceticismo dos habitantes que veem a passarola nos céus. Descida e pouso da passarola numa espécie de serra, com a chegada da noite. Tentativa de destruição da passarola, por Bartolomeu Lourenço (fogo), mas Baltasar e Blimunda impedem-no. Fuga do padre e camuflagem da máquina com ramos das moitas, na serra do Barregudo. Chegada de Baltasar e Blimunda, dois dias depois, a Mafra, fingindo que vêm de Lisboa. Procissão em Mafra em honra do Espírito Santo, que sobrevoou as obras da basílica (na perspetiva dos habitantes). Capítulo XVII Trabalho procurado por Baltasar e Álvaro Diogo com a hipótese de ele trabalhar nas obras do convento. Baltasar na Ilha da Madeira, local de alojamento para os trabalhadores do convento. Descrição da vida nas barracas de madeira (mais de 200 homens que não são de Mafra). Verificação do atraso das obras (feita por Baltasar) – motivos: chuva e transporte dos materiais dificultam o avanço. Notícias de um terramoto em Lisboa. Regresso de Baltasar ao Monte Junto, onde se encontra a passarola. Visita de Scarlatti ao convento e encontro com Blimunda, sendo esta informada de que Bartolomeu de Gusmão morreu em Toledo, no dia do terramoto. Capítulo XVIII Enumeração dos bens do Império de D. João V. Enumeração dos bens comprados para a construção do convento. Realização de uma missa numa capela situada entre o local do futuro convento e a Ilha da Madeira. Apresentação dos trabalhadores do convento e apresentação de Baltasar Mateus (já com 40 anos). Capítulo XIX Os trabalhos de transporte de pedra-mãe (Benedictione). Mudança de serviço no trabalho de Baltasar: dos carros de mão à junta de bois. Notícia da necessidade de ir a Pero Pinheiro buscar uma pedra enorme (Benedictione). Trabalho dos homens em época de calor e descrição da pedra. Ferimento de um homem (perda do pé) no transporte da pedra (“Nau da Índia”). Narrativa de Manuel Milho (história de uma rainha e de um ermitão). Segundo dia do transporte da pedra e retoma da narrativa de Manuel Milho. Chegada a Cheleiros e morte de Francisco Marques (atropelado pelo carro que transporta a pedra) bem como de dois bois. Velório do corpo do trabalhador. Manuel Milho retoma a narrativa. Missa e sermão de domingo. Final da história narrada por Manuel Milho. Chegada da pedra ao local da Basílica, após oito dias de percursoCapítulo XX Regresso de Baltasar, na primavera, ao Monte Junto, depois de seis ou sete tentativas. Companhia de Blimunda, passados três anos da descida da passarola, nesse regresso. Confidência de Baltasar ao pai: o destino da sua viagem e o voo na passarola. Renovação da passarola graças à limpeza feita por Baltasar e Blimunda. Descida do casal a Mafra, localidade infestada por doenças venéreas. Morte do pai de Baltasar. Capítulo XXIII Cortejo de estátuas de santos em Fanhões. Deslocação de noviços para Mafra nas vésperas de sagração do convento. Chegada dos noviços. Regresso de Baltasar a casa depois do trabalho. Ida de Baltasar e Blimunda ao local onde se encontram as estátuas. Apreensão de Blimunda ao saber que passados seis meses Baltasar vai ver a passarola. O casal no círculo das estátuas e reflexão sobre a vida e a morte. Despedida amorosa de Baltasar e Blimunda na barraca do quintal. Chegada de Baltasar à Serra do Barregudo. Entrada de Baltasar na passarola, seguida da queda deste e do voo da máquinaCapítulo XXI Auxílio desmotivado da Infanta D. Maria e do Infante D. José na construção da Basílica de S. Pedro (brinquedo de D. João V). Encomenda de D. João V ao arquiteto Ludovice para construir uma basílica como a de S. Pedro na corte portuguesa. Desencorajamento de Ludovice, convencendo o rei a construir um convento maior em Mafra. Conversa de D. João V com o guarda-livros sobre as finanças portuguesas e preparativos para o aumento da construção do convento em Mafra. Intimação de um maior número de trabalhadores para cumprimento da vontade real. O rei e o medo da morte (que o possa impedir de ver a obra final). Vontade de D. João V em sagrar a basílica no dia do seu aniversário, daí a dois anos (22/10/1730). Chegada de um maior número de trabalhadores a Mafra (500). Capítulo XXII Casamento da Infanta Maria Bárbara com o príncipe D. Fernando de Castela e casamento do príncipe D. José com Mariana Vitória. Participação de João Elvas no cortejo real para encontro dos príncipes casadoiros. Partida do rei para Vendas Novas. Percurso do rei na direção de Montemor. Trabalho de João Elvas no arranjo das ruas, após chuva torrencial, para que o carro da rainha e da princesa possa prosseguir para Montemor. Esforço dos homens para tirar o carro da rainha de um atoleiro. João Elvas recorda o companheiro Baltasar Mateus junto de Julião Mau-Tempo. Conversa destes e a suspeita de que Baltasar voou com Bartolomeu de Gusmão. Tempo chuvoso no percurso de Montemor a Évora. Lembrança da princesa de que desconhece o convento que se está a erguer em favor do seu nascimento, depois de ver homens presos a serem enviados para trabalhar em Mafra. Encontro do rei com a rainha e os infantes em Évora. Cortejo real dirigido para Elvas, oito dias após a partida de Lisboa para troca das princesas peninsulares. Reis de Espanha em Badajoz. Chegada do rei, da rainha e dos infantes ao Caia, a 19 de janeiro. Cerimónia da troca das princesas peninsulares.Capítulo XXIV Espera de Blimunda e posterior busca de Baltasar. Entrada do rei em Mafra. Grito de Blimunda ao chegar ao Monte Junto, depois de descobrir que a passarola não se encontrava no local habitual. Encontro de Blimunda com um frade dominicano que a convida a recolher-se numa ruínas junto ao convento. Tentativa de violação de Blimunda pelo frade e morte deste com o espigão que ela lhe enterra entre as costelas. Blimunda faz o caminho de regresso a casa. A ansiedade de Blimunda depois de duas noites sem dormir. Final das festividades do dia, em Mafra. Informação de Álvaro Diogo sobre quem está para chegar a Mafra. Dia do aniversário do rei e da sagração da basílica. Cortejo assistido por Inês Antónia e Álvaro Diogo, acompanhados por Blimunda. Bênção do patriarca na Benedictione. Final do primeiro dos oito dias de sagração e saída de Blimunda para procurar Baltasar. Capítulo XXV Procura de Baltasar por Blimunda ao longo de nove anos. Apelido de Blimunda: a voadora. Identificação de Blimunda com a terra onde ela permaneceu por largo tempo a ajudar os que dela se socorriam: Olhos de Água. Passagem de Blimunda por Mafra e tomada de conhecimento da morte de Álvaro Diogo. Sétima passagem desta por Lisboa. Encontro de Blimunda (em jejum) com Baltasar, que está a ser queimado num auto de fé, junto com António José da Silva (O Judeu), em 1739. Recolha da vontade de Baltasar por Blimunda.

Memorial do Convento

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