Música

Eduardo Costa Ribeiro
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Reflexões e pareceres

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Considerações sobre harmonia musical
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Estética por Eduardo Costa Ribeiro   “Nada é belo, apenas o homem é belo: sobre essa ingenuidade repousa toda estética, ela é sua primeira verdade. Acrescentamos de imediato a segunda: nada é feio, a não ser o homem que degenera - com isso estão demarcadas as fronteirasdo reino do juízo estético.”  (Nietzsche, Crepúsculo dos ídolos, página 92.)     Estética é um assunto muito complicado e controverso, afinal no fundo quando falamos disso estamos falando de puro e simples gosto. Eu gosto muito e cito muito a frase de um professor que tive (que vai totalmente contra o politicamente correto, mas é boa para elucidar o perigo do caso): “gosto é que nem braço direito, cada um tem o seu e tem gente que não tem”. Mas a coisa toda é que pode ser além disso, além do gostar ou não. Estética pode ser pensada como fazer, pois quando se faz, faz-se por que se gosta (sem considerar aspectos comerciais para  não fugir muito do pensamento). E como na natureza, incluindo a natureza humana e o seu Zeitgeist, nada se cria, tudo se copia: em música pensamos estética como uma forma de criar segundo uma preferência criativa, um gosto já estabelecido, seja ele estabelecido por alguém(s) ou por você mesmo. Desde o início da música ocidental, a estética pode ser entendida como uma série de características que definem uma obra musical, e isso é algo tão abrangente que historicamente passa por ideologia teológica (cantochão) à reformulação de todo o sistema musical ocidental (Schöenberg), ou seja, é de fato muita coisa a ser considerada. Mas disso tudo vamos fazer um primeiro resumo bem a grosso modo (usando a margem de erro do IBOPE e ignorando a conflitante diferença entre estilo e linguagem): atualmente podemos entender estética como algo que nos inclua em algum contexto (seja cultural, social ou que quer que seja), em que somos definidos pelas regras que obedecemos no processo criativo, incluindo suas possíveis rupturas. Quando queremos fazer algo com uma estética definida, estamos delimitando um escopo para nossa criação. Se queremos uma estética “épica” não podemos fugir da orquestração monumental, inaugurada por Berlioz e “copiada” (na falta de uma palavra melhor) por todos os compositores posteriores à Ravel. Se queremos uma estética “futurista” não podemos fugir da eletroacústica, inaugurada pela Musique Concrète francesa ou Elektroneschi Musik alemã da década de 40, e assim por diante, etc, etc, e tal. Em outras palavras: a estética musical deve ser um retrato sonoro de uma representação, de uma realidade seja ela social, cultural, política (e por que não econômica?) que corrobora a imersão nessa realidade “emulada”, dentro de outra realidade através de afetos e afins. A primeira realidade (o real concreto) é então um objeto que deve ser virtualizado pela narrativa da segunda realidade (que acredito ser o conceito de gamificação: um real abstrato e ou abstraído). Um segundo resumo: pensando em estética musical, quando temos uma intenção estética precisamos não só de um motivo ou um tema, mas de uma instrumentação, de uma forma musical, de uma agógica e de um cacoete, de um ethos, de um pathos, ou de outras tantas coisas técnicas e filosóficas do meio musical… precisamos da imersão absoluta nessa estética, mesmo sabendo que o absoluto, conforme Kierkegaard, é algo inatingível. Mas não custa tentar. Então para se compor a partir de uma estética, é preciso entender mais que a música dessa estética (conhecer um exemplo musical, uma técnica composicional e por ai vai) é preciso sempre ver, ou perceber o contexto dessa estética. Contexto de novo? Então agora temos uma nova palavra chave, e os resumos anteriores não serviram pra resumir. Agora “contexto” é uma palavra chave para a estética! Sim, de fato é. Como bem me alertou um grande amigo e grande músico, Rafael Thomaz, “a estética, em qualquer campo que seja [música, cinema, literatura, e por ai vai], é estabelecida através de referências”. E essas referências sempre são externas, ou seja, é algo extracorpóreo, é algo que vai além das faculdades mentais de cada um. Essa referência pode ser um acontecimento social, cultural, local (global?), e tal e tal… é algo que é alheio ao “ser” do compositor (ou seja, sua essência), mas que influi diretamente no “ente” do compositor, (o hardware, o palpável), e a partir disso, sem escapatória como me lembrou minha esposa que também é musicista, resulta que estaremos lidando então com uma ou mais formas de percepção,  em especial a percepção de mundo de cada um. E tudo fica mais confuso do que já é, e do que possa vir a ser: um devir, parafraseando Heráclito “é impossível entrar no mesmo rio duas vezes. As águas já são outras e nós já não somos os mesmos”. Bom, mas nesse momento surge a pergunta: onde vamos chegar com isso? Não sei ao certo, mas até agora podemos ter uma ideia de quão grande é o assunto, e principalmente de quão bagunçado ele pode ser. Ou no mínimo que eu não consigo fazer bons resumos já que cada um serviu para acrescentar informações diferentes… Para chegar até aqui fiz um passeio por vários autores que só me deixaram com mais dúvidas, e basicamente é isso que também estou tentando fazer: criar mais dúvidas! As dúvidas nos ajudam a achar as respostas, é a escolha da pílula que o Neo fez e que também temos que fazer… sem a ajuda do Morpheus fora da Matrix, e principalmente sem estar em um filme. Uma espécie de escolha entre o fácil e o certo. Uma escolha brega, porém clássica!   Originalmente postado aqui.
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