11) FCC/Analista Judiciário/TRT 1/Judiciária/2013
Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.
Cada um fala como quer, ou como pode, ou como acha que pode. Ainda ontem
me divertiu este trechinho de crônica do escritor mineiro Humberto Werneck,
de seu livro Esse inferno vai acabar:
“− Meu cabelo está pendoando – anuncia a prima, apalpando as melenas.
Tenho anos, décadas de Solange, mas confesso que ela, com o seu solangês,
às vezes me pega desprevenido.
− Seu cabelo está o quê?
− Pendoando – insiste ela, e, com a paciência de quem explica algo elementar
a um total ignorante, traduz:
− Bifurcando nas extremidades.
É assim a Solange, criatura para a qual ninguém morre, mas falece, e, quando
sobrevém esse infausto acontecimento, tem seu corpo acondicionado num
ataúde, num esquife, num féretro, para ser inumado em alguma necrópole, ou,
mais recentemente, incinerado em crematório. Cabelo de gente assim não se
torna vulgarmente quebradiço: pendo-a.”
Isso me fez lembrar uma visita que recebemos em casa, eu ainda menino.
Amigas da família, mãe e filha adolescente vieram tomar um lanche conosco.
D. Glorinha, a mãe, achava meu pai um homem intelectualizado e caprichava
no vocabulário. A certa altura pediu ela a mim, que estava sentado numa
extremidade da mesa:
− Querido, pode alcançar-me uma côdea desse pão?
− Por falta de preparo linguístico não sabia como atender a seu pedido.
Socorreu-me a filha adolescente:
− Ela quer uma casquinha do pão. Ela fala sempre assim na casa dos outros.
− A mãe ficou vermelha, isto é, ruborizou, enrubesceu, rubificou, e olhou a filha
com reprovação, isto é, dardejou-a com olhos censórios.
Veja-se, para concluir, mais um trechinho do Werneck:
“Você pode achar que estou sendo implicante, metido a policiar a linguagem
alheia. Brasileiro é assim mesmo, adora embonitar a conversa para
impressionar os outros. Sei disso. Eu próprio já andei escrevendo sobre o que
chamei de ruibarbosismo: o uso de palavreado rebarbativo como forma de,
numa discussão, reduzir ao silêncio o interlocutor ignaro. Uma espécie de gás
paralisante verbal.”
(Cândido Barbosa Filho, inédito)
“Ruibarbosismo” é um neologismo do qual se valeu o autor do texto para
lembrar o estilo retórico pelo qual se notabilizou o escritor baiano.
Não haverá prejuízo para a correção da frase acima ao se substituírem os
segmentos sublinhados, na ordem dada, por:
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