O aumento da temperatura no
músculo tem mostrado efeito em
propriedades que contribuem na
determinação da força muscular
como fluxo sanguíneo,
além de poder
proporcionar
potencialização da função
muscular, como a força
muscular3,5.
Na utilização do turbilhão com água aquecida em
membros inferiores de atletas de variados esportes
como natação, basquetebol e ginástica, houve redução
de força muscular, com recuperação da capacidade
contrátil após duas horas seguintes à aplicação3,9.
Já em ciclistas submetidos à imersão
em água quente, foi observado
aumento imediato de 11% no pico de
torque10.
Com esta mesma forma de aplicação de
calor, porém no músculo tríceps sural, foi
relatada melhora da performance dinâmica
em ciclistas e saltadores11.
Resultados do aumento de força
também foram observados quando
utilizada a diatermia por ondas curtas
no músculo quadríceps femoral,
sendo que aparelho locomotor no
EXERCÍCIO E nO ESPORTE Artigo
Original Recebido em 12/01/2011,
Aprovado em 09/05/2012. 248 Rev
Bras Med Esporte – Vol. 19,
A estimulação elétrica neuromuscular (EENM) é
utilizada comumente na reabilitação pelos
fisioterapeutas com o objetivo analgésico e
também de melhorar as propriedades
musculares relacionadas ao treino como a
produção de torque do músculo quadríceps,
fluxo sanguíneo intramuscular e também de
forma preventiva.
A corrente excitomotora, mais popularmente conhecida
para realização da EENM, é a chamada corrente russa,
que se trata de uma corrente alternada de média
frequência (2.500 Hz) modulada em bursts de 50 Hz
com ciclo de trabalho de 50%.
Essa corrente foi
inicialmente descrita por
Yakov Kots na década de 70,
que relatou ganho de força
em músculos saudáveis de
atletas de elite15.
Agentes físicos como o calor e a
estimulação elétrica vêm sendo muito
utilizados no tratamento
fisioterapêutico para fins analgésicos,
sendo observados benefícios na
utilização associada desses recursos
quando comparado com a aplicação
individual das modalidades.
No entanto, estudos que
apresentam os efeitos
isolados do calor em relação
à força muscular são
escassos e apresentam
resultados contraditórios.
Estudos sobre a influência do
aquecimento na capacidade de
geração de força, bem como a
associação do calor com a
estimulação elétrica neuromuscular,
são de grande importância, pois
poderiam contribuir para a
otimização dos programas de ganho
de força, que são comumente
utilizados tanto na prática clínica
como em pacientes com hipotrofia
devido ao tempo prolongado de
imobilização após intervenção
cirúrgica.
A produção de calor local no
músculo poderia ter efeitos
benéficos à EENM devido às
alterações hemodinâmicas e
neuromusculares como aumento do
fluxo sanguíneo, melhor aporte de
oxigênio,
o efeito analgésico produzido pelo
aquecimento17 poderia reduzir o
desconforto causado pela estimulação
elétrica, fazendo com que ela seja melhor
aceita pelos pacientes e permitindo o uso
de intensidades de corrente mais
elevadas.
o objetivos deste trabalho foram o de analisar o efeito da
diatermia por ondas curtas no torque do músculo
quadríceps femoral gerado pela contração voluntária e no
torque eletricamente induzido em indivíduos saudáveis, e o
efeito da diatermia por ondas curtas sobre o desconforto
sensorial gerado pela estimulação elétrica neuromuscular
durante a produção do torque eletricamente induzido.
METODO/PRATICA
Foram selecionados para participação deste estudo 28
voluntários, sendo 13 do sexo masculino e 15 do feminino,
com idade entre 18 e 25 anos, IMC entre 19 e 25 kg/m², que
não apresentavam histórico de intervenção cirúrgica,
lesões ou doenças musculoesqueléticas e neuromusculares
no membro inferior dominante. Foram excluídos deste
estudo duas voluntárias que relataram desconforto severo
durante a aplicação da corrente elétrica.
Instrumentos
Para a determinação do torque utilizou-se um
dinamômetro isocinético (Cybex® Norm 6000),
previamente calibrado. Para a aplicação do calor
profundo foi utilizado o aparelho de ondas curtas
Diatermax 350P (KLD® – Biosistemas Equipamentos
Eletrônicos Ltda). Já para a determinação do ponto
motor do músculo reto femoral e vasto medial foi
utilizado o aparelho Nemesys941P (Quark® –
Produtos Médicos), enquanto que para a estimulação
elétrica neuromuscular foi utilizado o aparelho
Endophasys (KLD® – Biosistemas Equipamentos
Eletrônicos Ltda). Para a mensuração do desconforto
gerado pela corrente elétrica foi aplicada a escala
visual analógica (EVA).
PROCEDIMENTOS
Todos os indivíduos foram analisados em quatro
momentos, alocados de forma aleatória através de
um sorteio de envelope opaco e lacrado, em dias
diferentes da semana, respeitando um intervalo de
dois a sete dias entre os testes, sempre realizado
entre as 13 e 18 horas (figura 1). Além disso, para
determinação do torque voluntário e eletricamente
induzido (TEI), foram realizadas três mensurações,
sendo que o maior valor dos três encontrados foi
utilizado para as análises18,19.
26 VOLUNTÁRIOS
TESTE 1 : CIVM
Anteriormente ao início do teste foi informado ao voluntário que, quando
solicitado, o mesmo deveria executar a maior força possível para extensão
do joelho, permitindo assim que fosse determinado o torque do músculo
quadríceps femoral através da CIVM. Este procedimento foi realizado três
vezes, com nove segundos de contração cada, com intervalo de três
minutos de uma mensuração para outra, em que o indivíduo permanecia
relaxado. Os voluntários foram incentivados verbalmente pelo
examinador durante a realização dos testes24.
TESTE 2 :DOC+ CIVM
Atravésvda técnica coplanar durante um
período de 20 minutos. Foram utilizados
eletrodos do tipo placa, sendo que um dos
eletrodos foi posicionado 3 cm abaixo da
espinha ilíaca anterossuperior e o outro 3
cm acima da base da patela.
Os voluntários foram instruídos a informar ao pesquisador quando a
sensação térmica gerada pelo aparelho de ondas curtas fosse um
calor moderado (dose III), sendo essa dose mantida durante os 20
minutos de aplicação.
Após este procedimento, o indivíduo foi posicionado no dinamômetro
isocinético e informado que, quando solicitado, fosse feita a maior
força possível para a determinação do torque do músculo quadríceps
femoral (CIVM). Foram realizadas três contrações com nove segundos
cada e com intervalo de três minutos entre elas.
TESTE 3: TEI
Antes do início do teste o indivíduo foi
posicionado no dinamômetro isocinético,
sendo solicitado ao voluntário que
mantivesse o membro avaliado relaxado
com intuito de evitar contrações voluntárias
durante a estimulação elétrica até que
fossem completados os três minutos de
intervalo pré-teste.
Os valores obtidos do torque foram
normalizados utilizando o
percentual da contração isométrica
voluntária máxima obtido no teste
1.
Para geração do TEI utilizou-se o equipamento
Endophasys (KLD® Biosistemas Equipamentos
Eletrônicos Ltda.) que emitia uma corrente
alternada retangular, com frequência
portadora de 2.500 Hz, modulada em bursts de
50 Hz e ciclo de trabalho de 20%.
Os eletrodos autoadesivos (7,5 x 13 cm) (Axelgaard®,
Valutrode)foram posicionados no ponto motor do músculo
vasto medial oblíquo e no ponto motor do nervo femoral.
Para a localização destes pontos motores foi utilizado um
gerador universal de correntes (Nemesys941P). Cada
contração eletricamente induzida teve duração de nove
segundos, com três minutos de intervalo, sendo a amplitude
(intensidade) aumentada até o valor previamente
determinado.
TESTE IV : DOC + TEI
O indivíduo foi submetido à aplicação da diatermia por
ondas curtas antes da realização do teste, durante um
período de 20 minutos com os eletrodos posicionados
conforme já informado no teste .
Posteriormente à aplicação da DOC, o indivíduo foi
posicionado no dinamômetro isocinético e instruído a
manter o membro avaliado relaxado com intuito de evitar
contrações voluntárias durante a estimulação elétrica. Os
eletrodos do estimulador elétrico foram posicionados no
ponto motor do músculo vasto medial e no ponto motor do
nervo femoral, como já descrito anteriormente no teste
Cada contração eletricamente
induzida teve duração de nove
segundos, com três minutos
de intervalo, sendo a
amplitude da corrente
aumentada até o valor
previamente determinado.
RESULTADOS
Não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes
em nenhuma das variáveis avaliadas (CIVM, TEI (% da CIVM) e
desconforto sensorial) comparadas com relação à aplicação
prévia de calor ou não (tabela 1). No entanto, ao estratificarmos
os sujeitos por gênero, observou-se maior desconforto nos
indivíduos do sexo feminino durante a geração do TEI após a
aplicação da DOC quando comparados aos indivíduos do sexo
masculino (p = 0,044) (tabela 2). Houve um aumento do TEI
apenas nos indivíduos do sexo masculino após a aplicação de
calor (p = 0,030) (tabela 3).
CONCLUSÃO
A diatermia por ondas curtas não influenciou o torque gerado
pela contração voluntária. Porém, a aplicação prévia do calor
profundo produziu um aumento do torque eletricamente
induzido nos indivíduos do sexo masculino. Além disso, o
desconforto produzido durante a estimulação elétrica foi maior
nos indivíduos do sexo feminino após a aplicação do calor.