A CONSTRUÇÃO DO SABER, cap2: A Pesquisa
Cientifica Hoje
O ENFRAQUECIMENTO DO POSITIVISMO
A abordagem positivista poderia ser aplicada, com sucesso, a todos os objetos de conhecimento,
tanto naturais quanto humanos. Ora, nas ciências humanas, isso não se deu sem problemas.
Ciencias naturais e ciencias humanas
As ciencias naturais e as ciencias humanas tratam de objetos que nao se
parecem nem de longe. Com efeito, seus objetos sao muito diferentes, por
seu grau de complexidade e por sua facilidade de serem identifica- dos e
observados com precisao. Isso se percebeu com certa rapidez.
A complexidade dos fatos humanos
Mais complexos que os fatos da natureza, Emile Durkheim, estimava que se devia
"considerar os fatos sociais como coisas" e que a mente apenas poderia compreender tais
fatos "com a condição de sair de si mesma, pela via da observação e de experimentações".
Ora, a simples observação dos fatos humanos e sociais traz
problemas que não se encontram nas ciências naturais.
Nas ciências humanas, os objetos de pesquisa são dotados de liberdade e
consciência. A realidade dos fatos humanos e delas amplamente tributaria,
e raramente se pode determina-la, em toda sua complexidade, sem
considerar os multiplos elementos que a compoem.
Os fatos humanos tem graus de complexidade que a ciência do século XIX não via em suas pesquisas
sobre a natureza. Os seres humanos reagem conforme sua natureza, que, esta, não e
previsível. o ser humano responde diferentemente a estímulos e responde diferente a um observador.
O pesquisador é um ator
O pesquisador: ele também e um ator agindo e exercendo sua influencia.
Frente aos fatos sociais, tem preferencias, inclinações, interesses particulares;
interessa-se por eles e os considera a partir de seu sistema de valores.
Em ciências humanas, o pesquisador e mais que um
observador objetivo: e um ator aí envolvido.
A medida do verdadeiro
O pesquisador conduz a uma construção de saber cuja medida
do verdadeiro difere da obtida em ciencias naturais.
A ideia de lei da natureza e de
determinismo, cara ao positivismo, aplica-se
mal nas ciências humanas.
O positivismo mostrou-se, portanto, rapidamente enfraquecido, quando se desejou
aplica-lo no domínio do humano. A própria evolução da pesquisa em ciências naturais
seria, se não uma inspiração, ao menos um encorajamento.
O empirismo difícil
No inicio do século, as ciências naturais também haviam
começado a se sentir limitadas no quadro do positivismo.
Sem jamais ter visto um átomo — nem mesmo através dos mais potentes microscópios —,
conhece-se, no entanto, sua natureza. Não temos sobre ele um conhecimento objetivo, mas
uma interpretação construída pela mente do pesquisador. O conhecimento do átomo e, na
realidade, uma teoria do átomo.
A teoria
O conhecimento obtido permanece ate ser contestado por outras
interpretações dos fatos. Reforça-se, ao contrario, se os saberes obtidos,
através de novas manipulações, o confirmam.
Teoria, lei e previsão
a teoria seja uma compreensão adequada, ainda que possivelmente provisória, e se
reconhece que outras verificações poderão, mais tarde, assegurar-lhe maior validade.
Entre a física e as ciências sociais, no joguinho de semelhanças e diferenças, as primeiras
prevalecem amplamente sobre a segunda em relevância: a física e uma ciência social, antes de tudo.
Objetividade e subjetividade
O desgaste da ideia de determinismo e acompanhado de uma
transformação do conceito de objetividade.
Em outras palavras, o papel do pesquisador e reconhecido, bem como sua eventual subjetividade, que
se espera, todavia, ser racional, controlada e desvendada. Define-se a objetividade, relacionada mais
ao sujeito pesquisador e seu procedimento do que ao objeto de pesquisa.
O REALINHAMENTO DA CIENCIA
As ciências humanas que hoje conhecemos nascem, portanto, na ultima parte do século XIX e se
desenvolvem nas primeiras décadas do século XX. Desenvolvem-se segundo o modelo das ciências
naturais e o espirito do positivismo. Mas com o uso, esse modelo cria diversos problemas.
As ciências naturais e as ciências humanas encontram-se, na defini- ?ao desses modos, e
pode-se dizer hoje que, em seus procedimentos fundamentais, partilham essencialmente
as mesmas preocupa?6es: 1) centrar a pesquisa na compreensão de problemas
específicos; 2) assegurar, pelo método de pesquisa, a validade da compreensão; 3) superar
as barreiras que poderiam atrapalhar a compreensão.
Compreender
compreender problemas que surgem no campo do social, a fim de eventualmente
contribuir para sua solução; pouco importa se a solução do problema refere-se a uma falta
de conhecimentos, como em pesquisa fundamental, ou de intervenções eventuais, como
em pesquisa aplicada.
Os fenômenos humanos repousam sobre a multicausalidade, ou seja, sobre um
encadeamento de fatores, de natureza e de peso variáveis, que se conjugam e interagem. E
isso que se deve compreender, estima-se, para verdadeiramente conhecer os fatos humanos.
Para os positivistas, o objetivo final da pesquisa era explicar, isto e, desvendar a relação
causal, a causa que provoca o efeito e, desse modo, obter o saber procurado. Agora, trata-se de
começar a determinar os múltiplos fatores da situação, nela encontra-los e compreender sua
complexidade; em seguida, tendo obtido essa compreensão, divulga-la, ou seja, explica-la aos outros.
Objetividade e objetivação
Para os positivistas, o valor do conhecimento produzido repousava essencialmente
sobre o procedimento experimental e a quantificação das observações.
No melhor possível, o pesquisador que chega a um nível elevado de
generalização será tentado a falar em teoria.
A objetividade repousa sobre a objetivação da
subjetividade.
Multidisciplinaridade
e uma abordagem multidisciplinar, que consiste em abordar os
problemas de pesquisa apelando as diversas disciplinas das
ciências humanas que nos parecem uteis. Os modos de fazer são
diversos.
Essa inclina- 9ao para os trabalhos multidisciplinares em equipe caracteriza,
de modo importante, a pesquisa em ciências humanas hoje, sem,
entretanto, renegar a pesquisa individual, cujo valor permanece indiscutível.
EM RESUMO: O METODO
nas ultimas décadas de nosso século, as ciências humanas, como as ciências em geral,
distanciaram-se um pouco em relação a perspectiva positivista que as viu nascer e
determinaram o encaminhamento principal de seu método de constituição do saber.
Muitas vezes, o pesquisador sabe que sua hipotese não e sempre a unica possivel, e que outras poderiam
ser consideradas. Mas ele retém a que Ihe parece ser a melhor, a que Ihe parece suficiente para progredir
em dire9ao a compreensão do problema e a sua eventual solução. Deve-se comprovar a hipótese,
verificando-a.
propor e definir um problema -> elaborar uma
hipótese -> verificar a hipotese ->concluir.
PERSPECTIVAS CIENTÍFICAS NA PESQUISA EM
DESENVOLVIMENTO
Uma tal evolução, quando faz surgir novas perspectivas,
não apaga totalmente o que precede.
Deve-se, muitas vezes, nessas condições, ler nas entrelinhas para explicitar
o que esta implícito. Deve-se exercitar as aprendizagens dessa capítulo