A linguística aplicada e os estudos brasileiros: (inter-)relações teórico-metodológicas

Apresentação
1. Modernidade
  1. Líquida (BAUMAN, 2001): repetições de discursos historicamente cristalizados e a construção de novos discursos.
  2. Sólida (BECK, GIDDEN E LASH, 1997): reflexividade, vozes alternativas, formas sólidas de compreender e ordenar o mundo tornando estáveis as bases.
2. Novos tempos exigem novas formas de teorizar (MOITA LOPES, 2006a)
3. Fazer científico responsivo e responsável (BAKHTIN, 2010): agir responsavelmente no existir-evento por meio de atitudes responsivas do eu para si mesmo, do eu para o outro e do outro para o eu.
4. Ambas as áreas apostam em novas epistemologias, novas lentes, dialogando entre si, considerando o cenário social, econômico, político e cultural no qual as pessoas vivem e a pesquise se concretiza.
5. Construção de um movimento de compreensão
  1. LA: indisciplinar
  2. Estudos brasileiros: teórico- metodológico
6. Transfertilização: benefícios mútuos para as duas áreas em destaque.
A LA contemporânea: caminhos teórico-metodológicos
1. Vertentes
  1. Desaprendizagem (FABRÍCIO, 2006),
  2. Indisciplinar e mestiça (MOITA LOPES, 2006ª;2009)
  3. Transgressiva (PENNYCOCK, 2003;2010)
  4. Responsável e responsiva (BAKHTIN, 2003;2010).
  5. Procuram um espaço de imbricações, de engajamento social: como uma atividade político-ideológica.
  6. Modernista
    1. Fundada em crenças positivistas e estruturalistas; linguagem apolítica e ahistórica; separação entre sujeito e objeto, entre ciência e mundo; objetividade cientifica; sujeito num “vácuo social”.
2. Novas formas de fazer pesquisa que sejam mais responsivas e responsáveis ao mundo contemporâneo, trazendo o sujeito para dentro do campo de pesquisa, mudando o foco positivista para uma área hibrida - inter/transdisciplinar, que almeja “criar inteligibilidade sobre problemas sociais em que a linguagem tem papel determinante” (MOITA LOPES, 2006ª, p. 14)
3. Observação do entorno social, local, histórico e cultural, construção de agendas de pesquisas socialmente engajadas não positivitas – atribuições de pesquisadores da LA e do EB.
Os estudos brasileiros no cenário translocal: apontamentos críticos
1. “Estudos brasileiros” é a evolução de “estudos de área”, um campo de estudos que procura compreender questões geográficas, sociopolíticas e culturais em diferentes áreas do mundo.
2. Brasilianista: o estudioso estrangeiro que se dedica ao exame de temas brasileiros.
3. Primeiros brasilianista: o inglês Robert Southey que escreveu a obra “História do Brasil”.
4. A partir de 1960, o interesse pelo estudo do brasil cresceu nos EUA; grande presença de publicações nacionais traduzidas para o inglês disponíveis em livrarias americanas.
5. A partir de 1980, os brasilianistas expandem seu foco temático, passando abordar questões de gênero, raça, meio ambiente, imigração, favelas, etc.
6. Em 1992, é fundado, pelos brasilianistas, em Los Angeles, a Brazilian Studies Association (BRASA), que reúne estudiosas interessados em fazer estudos brasileiros; 40% de seus membros são brasileiros.
7. Os novos brasilianistas propõem um giro epistemológico descolonizador, que possibilite a construção de um olha brasileiro para as ciências humanas e sociais. (CARVALHO, 2013)
8. Brasilianista têm procurado se afastar da ideia homogeneizante de uma “América Latina”, pois o Brasil possui especificidades que o diferencia de outros países americanos.
9. Os estudos brasileiros têm procurado construir seu fazer científico de modo indisciplinar, isto é, não se constituindo como disciplina acadêmica, mas como uma área (PEREIRA, 2012) ou uma abordagem, um exemplo (CARVALHO, 2016).
10. O que o atual rumo dos estudos brasileiros propõe é, mais do que uma simples mudança de paradigma (CARVALHO, 2016), uma forma translocal de fazer ciências no sul-global (PEREIRA, 2012).
LA e estudos brasileiros: (inter-)relações
1. Áreas do saber com reprentatividades por meio de associações internacionais.
  1. LA: departamento de línguas/literaturas materna ou estrangeiras
  2. Escolas brasileiras: departamento de estudos latino-americanos ou de áreas.
2. Implicadas socialmente e concordam ao adotarem a interdisciplinaridade para construção de inteligibilidade para seus problemas de pesquisa.
  1. Escolas brasileiras: campo de estudos amplo e eclético, teórico e metodológico. Oferece uma visão global, na tentativa de compreender a complexidade do papel brasileiro na contemporaneidade.
  2. LA: na tentativa de se constituir como uma área de pesquisa que deseja “ousar pensar diferente, para além dos paradigmas consagrados, que se mostram e que precisam ser desaprendidos (FABRÍCIO, 2006) para compreender o mundo atual” (MOITA LOPES, 2009)
3. Como os linguistas aplicados, os brasilianistas têm procurado reconhecer e responder as questões que estão sendo construídas a partir do Brasil. Procuram lançar um olhar brasileiro, um (re)pensar brasileiro, sobre problemas que afligem ambos os campos de pesquisa.
Contribuições do diálogo entre a LA e os estudos brasileiros para a pesquisa em ensinagem
1. Duas vertentes das pesquisas em ensino da LA por Moita Lopes (1996)
  1. Natureza teórico-especulativa, base teórica advinda da linguística, que ditava modos e procedimentos para a sala de aula.
  2. Investigação do produto da aprendizagem de línguas, levando para as salas de aula as implicações possíveis de determinada teoria da área da linguística, investigando seus resultados
2. Três vertentes de pesquisas atuais
  1. Investigativo/etnográfico: compreender de que modo práticas de educação linguística e seus agentes têm se comportado e se construído em território brasileiro.
  2. Propositivas/intervencionistas: traz propostas para a concretização da ensinagem de línguas em território nacial.
  3. Político-educacional: centram-se nas características do fazer política linguística e na análise das consequências de tal fazer.
3. O diálogo entre ambas as áreas pode contribuir para a construção de uma agenda de pesquisa mais responsável e responsiva no campo da educação brasileiras, sobretudo na ensinagem de línguas maternas e estrangeiras. Pode auxiliar na:
  1. Construção de projetos e pesquisas em ensinagem que relacionem contextos locais e estruturas macrossociais mais amplas.
  2. Problematização e estranhamento de teorias importadas para a ensinagem de línguas ao contexto brasileiro.
  3. Relativização da ideia de América Latina que guia algumas investigações em ensinagem e iniciativas de regionalização da LA nacional.
4. Os estudos brasileiros podem
  1. Facultar aos linguistas aplicados a ideia de que as práticas de ensinagem de línguas ocorrem situadamente, não apenas em microestruturas político-econômicas e sociais, mas também considerando o diálogo dessas com macroestrutura de poder.
  2. Contribuir para um pensar sobre possíveis revoluções epistemológicas que o estudo, ensino, difusão e prática das línguas indígenas trariam para o mundo, em geral, e para a ensinagem brasileira, em particular.
  3. Dar-se na problematização da importação de teorias para o fazer pesquisa em LA na academia nacilnal. O que os estudos brasileiros fazem enxergar é a necessidade de construção de um olhar teórico translocal para a pesquisa em LA.
  4. Contribuir para a negação de uma relação explícita entre o Brasil e o que usualmente se denomina “América Latina”, em relação à LA e aos estudos em ensinagem.
5. Contribuição da LA para os estudos brasileiros
  1. a LA indisciplinar é conhecida por discutir perguntas importantes que emergem dos modos de vida da população nacional, sobretudo de práticas de ensinagem de línguas na educação linguística brasileira. E, nos estudos brasileiros, ainda é baixo o volume de textos que tenham como foco a investigação sobre a sala de aula e sua relação efetiva com o espaço social, geográfico e político que chamamos de Brasil.

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