Aquilo que é "ideológico" é normalmente contraposto, de modo explícito ou implícito, ao que é "pragmático".
E o caráter da Ideologia é atribuído a uma crença, a uma ação ou a um estilo político pela presença, neles,
de certos elementos típicos, como o doutrinarismo, o dogmatismo, um forte componente passional.
Giovanni Sartori exprimiu com clareza este ponto de vista. "As discussões sobre a Ideologia", escreve ele, "caem
geralmente em dois grandes setores: A Ideologia no conhecimento e/ou a Ideologia na política. No que se refere
à primeira área de indagação, o problema é se o conhecimento do homem é condicionado ou distorcido
ideologicamente e em que grau o pode ser. Quanto à segunda área de indagação, o problema é se a Ideologia é
um aspecto essencial da política e, uma vez concluído que o seja, o que é que ela é e como pode ser explicada.
No primeiro caso, a Ideologia ê contraposta à verdade, à ciência e ao conhecimento válido, em geral. No
segundo caso, o que importa não é o valor da verdade, mas, por assim dizer, o valor funcional da Ideologia"
O SIGNIFICADO FRACO DE IDEOLOGIA. A) ALGUNS usos. — Entre os usos mais gerais do significado
fraco de Ideologia, podemos lembrai o de Carl J. Friedrich, segundo o qual as Ideologias são "sistemas de
idéias conexas com a ação", que compreendem tipicamente "um programa e uma estratégia para a sua
atuação" e destinam-se a "mudar ou a defender a ordem política existente". Têm, além disso, a função de
manter conjuntamente um partido ou outro grupo empenhado na luta política.
Giovanni Sartori elaborou expressamente uma contraposição entre Ideologia e pragmatismo, fundada sobre
uma dupla dimensão dos sistemas de crenças políticas: a dimensão cognitiva e a dimensão emotiva. Os
sistemas ideológicos de crenças são caracterizados, a nível cognitivo, por uma mentalidade dogmática
(rígida, impermeável, tanto aos argumentos quanto aos fatos) e doutrinária (que faz apelo aos princípios e à
argumentação dedutiva) e, a nível emotivo, por um forte componente passional, que lhes confere um alto
potencial ativista, enquanto os sistemas pragmáticos de crenças são caracterizados por qualidades opostas.
Segundo Sartori, este conceito de Ideologia serve para explicar os conflitos políticos. A contraposição de
dois sistemas ideológicos de crenças tende a vitalizar conflitos mais ou menos radicais, desde o momento
em que aqueles sistemas de crenças estão associados a uma mentalidade fechada e de forte carga
emocional ou passional. A contraposição de dois sistemas pragmáticos de crenças tende a vitalizar o
consenso e os compromissos e as transações pragmáticas, desde o momento em que esses sistemas de
crenças estão associados a uma mentalidade aberta e a uma carga passional mais ou menos baixa. Além
disso, a Ideologia, assim analisada, pela sua pronunciada heterogeneidade de composição, é o instrumento
fundamental que as elites IDEOLOGIA 589 políticas têm à disposição para conseguir a mobilização política
das massas e para levar, a um grau máximo, a sua manipulação
A tese do "fim" ou do "declínio das Ideologias" está ligada a certas conotações da acepção particular de
Ideologia, como o dogmatismo, o doutrinarismo, a forte carga passional, a propensão para os conflitos
radicais, a tendência extremista, avaliados, de forma geral, de modo negativo. Esta tese ganhou forma por
volta da metade dos anos 50, na atmosfera criada por um forte desenvolvimento econômico do Ocidente,
pelo degelo soviético e pela crescente desilusão a propósito das possibilidades de uma afirmação do
comunismo nos países industrializados.
A verdade é que entre a noção de Ideologia de Bergmann e a de Marx existe uma diferença de fundo. A primeira é
ditada principalmente pelo intuito de purificar a teoria ou o intelecto das incrustações da praxe; a segunda, pelo
intuito de liberar a praxe das incorreções da teoria ou da consciência. O inimigo último da primeira colocação é o
dogmatismo e a intolerância; o da segunda, a dominação do homem sobre o homem.
O primeiro, que é de origem marxista, se refere ao estágio no qual as condições reais do poder contribuem para forjar (e para deformar) a representação-aceitação do poder e dos valores. O conceito bergmanniano, pelo contrário, não coloca
em discussão o processo de formação dos valores e os aceita como dados; e concentra a atenção sobre o estádio que analiticamente se sucede, no qual os valores já formados, para incrementar a própria eficácia, se apresentam na forma
simbólica das asserções de fato. Em resumo, o primeiro conceito diz respeito à formação (gênese) dos valores; o segundo conceito, à sua formulação.