A importância do movimento: a proposta de
Van Dijk
A abordagem funcional salienta a necessidade de dotar a criança
surdocega com aprendizagens significativas para a sua vida futura,
salientando a necessidade de aprendizagens centradas em
experiências reais do dia a dia.
As experiências motoras realizadas pela
criança, em conjunto com o professor, por
meio do movimento coativo constituem o
fundamento e a base do desenvolvimento e
da aprendizagem. Elas fornecem à criança
surdocega melhor qualidade e quantidade
de interações com pessoas, objetos e
acontecimentos.
Nesse enfoque, o elemento central é o próprio corpo da criança, suas necessidades, desejos e
interesses. O professor e a criança se movem e atuam permitindo a esta descobrir o seu próprio
corpo como instrumento para explorar o mundo. A viabilização dessa comunicação inicial pode
ser realizada a partir do programa de comunicação de Jan Van Dijk. Esse programa compreende
seis fases:
A fase da relação de apego e confiança (nutrição), que consiste no
desenvolvimento de um vínculo afetivo entre a criança e o adulto.
A fase de ressonância, que consiste no movimento corpo a corpo, sendo que a iniciativa do movimento
parte da criança. O objetivo desta fase consiste no estabelecimento dos primeiros
contatos com a criança e na introdução de modalidades de comunicação baseadas no
movimento.
A fase de movimento co-ativo ou mão sobre mão, caracteriza-se pela ampliação comunicativa entre o
estimulador e a criança, em um espaço mais amplo. O objetivo do trabalho nesta fase, consiste em
ampliar os recursos de comunicação e a ação motora da criança no espaço, bem como possibilitar o
desenvolvimento da habilidade de antecipação de acontecimentos em uma área determinada.
A fase da referência não representativa, que tem como objetivo propiciar condições para que a criança compreenda
alguns símbolos indicativos de atividades, pessoas e situações.
A fase de imitação visa estimular a criança na realização das atividades propostas. Representa a continuação
do movimento co-ativo. A distinção principal entre eles é que na imitação a criança realiza a ação após
demonstração do professor, na presença ou ausência dele, enquanto no movimento co-ativo a ação é
simultânea.
os gestos naturais surgem a partir das experiências com as qualidades motoras dos objetos,
sendo constituídos por movimentos das mãos quase iguais aos objetos da ação. Depois que a
criança for capaz de utilizar espontaneamente uma série de gestos naturais no contexto de uma
rotina diária contínua, pode-se introduzir gestos da língua de sinaispor meio dos processos de
desnaturalização e descontextualização.
Aspectos
pertinentes à
comunicação
A comunicação pode
ser receptiva e
expressiva. Muitas
crianças surdocegas
não desenvolvem a
fala, no entanto podem
expressar-se. Podem
também receber as
mensagens que lhes
são transmitidas por
outras vias sensoriais.
Comunicação receptiva é um processo de recepção e
compreensão de mensagens. No caso da criança surdocega, por
vezes é difícil determinar a forma como ela recebe as mensagens.
Comunicação expressiva é a forma como expressar desejos,
necessidades e sentimentos. A criança surdocega utiliza
normalmente formas de comunicação não-verbal tais como
sorrisos, movimentos, mudanças de posição que podem ser
compreendidos por adultos familiarizados. A comunicação com
essas crianças exige dos adultos que trabalham com elas
conhecimentos específicos sobre esse tipo de comunicação.
Comunicação receptiva
COMUNICAÇÃO RECEPTIVA NA
CRIANÇA SURDOCEGA EM FASE
PRÉ-LINGÜÍSTICA - No que se refere à
criança surdocega em fase
pré-lingüística, as formas de
comunicação receptiva mais freqüentes
são:
Pistas de contexto
natural; Pistas táteis;
Objetos de referência;
Uso do calendário;
Gestos naturais; Pistas
de imagens;
• COMUNICAÇÃO RECEPTIVA NA CRIANÇA
SURDOCEGA EM FASE PÓS-LINGÜÍSTICA -
No que se refere à criança surdocega em
fase pós-lingüística, as formas de
comunicação receptiva mais freqüentes
são:
Língua de sinais tátil; Língua de
sinais em campo visual reduzido;
Alfabeto manual tátil; Sistema
braile tátil ou manual; Escrita na
palma da mão; Tablitas
alfabéticas; Materiais técnicos
do sistema alfabético com
retransmissão em braile; Método
Tadoma; Sistema Malossi; Escrita
em tinta; Leitura labial; Língua
oral amplificada;
Comunicação expressiva
• COMUNICAÇÃO EXPRESSIVA NA CRIANÇA
SURDOCEGA EM FASE PRÉ-LINGÜÍSTICA - As crianças
surdocegas podem apresentar uma grande variedade de
formas de comunicação em diferentes níveis. Algumas
podem comunicar-se em níveis elementares e outras em
níveis mais elaborados (simbólicos). É importante
considerar o nível em que a criança se encontra para que
a comunicação seja viabilizada. Serão descritas algumas
formas de comunicação usadas pelas crianças,
iniciando-se por aquelas que funcionam em níveis mais
básicos de comunicação.
Comunicação por reconhecimento; Comunicação contingente (vocalizações,
movimentos, ativação de acionadores. comunicação instrumental); Comunicação
convencional; A comunicação simbólica emergente (adaptada); Níveis de
progressão na utilização dos símbolos; Características dos símbolos; Os
“dispositivos da comunicação” e o uso dos símbolos; Os livros de comunicação.
• COMUNICAÇÃO EXPRESSIVA NA CRIANÇA SURDOCEGA EM FASE
PÓS-LINGÜÍSTICA - A comunicação expressiva é a exteriorização dos desejos,
necessidades, informações e sentimentos das pessoas em relação a seu
ambiente. Caracteriza-se como uma prática presente na interação social.
Dentre as formas de comunicação expressiva mais comuns, encontram-se:
Expressão natural; Movimento do corpo; Expressão facial; Voltar
ao lugar; Toque; Gestos; Expressões emocionais; Sinais
incorporados; Língua brasileira de sinais - Libras; Expressão oral;
MÚLTIPLA DEFICIÊNCIA SENSORIAL
Considera-se uma criança com múltipla
deficiência sensorial aquela que
apresenta deficiência visual e auditiva
associadas a outras condições de
comportamento e comprometimentos,
sejam eles na área física, intelectual ou
emocional, e dificuldades de
aprendizagem.
Quase sempre, os canais de visão e audição não são os únicos
afetados, mas também outros sistemas, como os sistemas tátil
(toque), vestibular (equilíbrio), proprioceptivo (posição corporal),
olfativo (aromas e odores) ou gustativo (sabor).
Crianças que apresentam graves
comprometimentos múltiplos e condições
médicas frágeis:
2. demonstram dificuldades
acentuadas no reconhecimento das
pessoas significativas no seu
ambiente;
4. apresentam resposta mínima a
barulho, movimento, toque, odores e/ou
outros estímulos.leite, o que diminui o
risco de aspiração.
3. realizam
movimentos corporais
sem propósito;
1. apresentam mais dificuldades no
entendimento das rotinas diárias,
gestos ou outras habilidades de
comunicação;
Muitas dessas crianças têm dificuldade na
obtenção e manutenção do estado de alerta.
Isso é crítico porque a prontidão é o estado
comportamental em que as crianças estão
mais receptivas à estimulação, aprendem
melhor e são capazes de responder de uma
maneira socialmente aceita.
PRINCIPIOS ORIENTADORES DA
EDUCAÇÃO
CONDIÇÕES BÁSICAS
As escolas necessitam desenvolver, além
do currículo formal baseado nas
atividades tradicionais da escola
(conceitos básicos de matemática, leitura
e escrita, etc.), um currículo com objetivos
funcionais adequados à faixa etária e às
necessidades específicas desses
educandos. Como comunicação,
atividaeds de vida diária, alimentação,
controle de esfíncteres, higiene pessoal,
orienttação e mobilidade.
Com base na transdisciplinaridade, a
experiência precisa ser compartilhada
por todos os envolvidos no processo
educativo: família, profissionais e
comunidade.
TRABALHO EM EQUIPE
A abordagem que melhor favorece a educação da
criança surdocega é a da transdisciplinaridade, onde
os profissionais que observam e/ou atuam com a
criança partilham e respeitam os conhecimentos
sobre suas respectivas áreas ou especialidades entre
si, vendo a criança surdocega como um todo. Cada
profissional contribuirá com informações
importantes para a maximização da aprendizagem.
O PAPEL DA FAMILIA
O sucesso no processo da
educação das crianças
surdocegas depende em
grande parte dos pais, por
serem eles, ao longo da vida, as
pessoas que maior influência
terão na educação de seus
filhos. Além de que a criança
surdocega aprende a amenizar
os obstáculos que enfrenta.
Existe uma necessidade
de os profissionais
facilitarem situações
para que os pais
resgatem papéis que
eles deixaram de assumir
em função dos cuidados
que implica a educação
de um surdocego ou
múltiplo deficiente
sensorial, como
trabalhar, estudar, ter
uma atividade de lazer,
entre outras.
SURDOCEGUEIRA
O que é surdocegueira?
Quem é o surdocego?
A criança surdocega não é uma criança
surda que não pode ver e nem um cego
que não pode ouvir. Não se trata de
simples somatória de surdez e cegueira,
nem é só um problema de comunicação
e percepção, ainda que englobe todos
esses fatores e alguns mais.
Quando a visão e audição estão
gravemente comprometidas, os
problemas relacionados à aprendizagem
dos comportamentos socialmente aceitos
e a adaptação ao meio se multiplicam. A
falta dessas percepções limita a criança
surdocega na antecipação do que vai
ocorrer a sua volta.
Sua dificuldade na antecipação dos fatos faz com
que cada experiência possa parecer nova e
assustadora. Ainda como resultado da privação da
visão e audição, sua motivação na exploração do
ambiente é proporcionalmente diminuída. Seu
mundo se limita ao que por casualidade está ao
alcance de sua mão e, sobretudo, a si mesmo.
Além de não poder valer-se dos sentidos de distância (visão e
audição) para captar informações reais do mundo, a criança
surdocega pode apresentar alguns problemas decorrentes de
saúde, aspecto que pode vir a interferir no processo de ensino e
aprendizagem. Em ambos os casos o desafio é complexo: as
crianças precisam desenvolver formas de comunicação inteligíveis
com os seus interlocutores, antecipar sucessos futuros ou o
resultado de suas ações. Além dessas questões, é importante que
a criança esteja motivada a participar de experiências externas,
ainda que básicas, como alimentação, higiene, lazer etc.
O processo de aprendizagem ocorre por repetição e
estimulação orientada em contextos naturais, dado que a
surdocegueira interfere na capacidade de aprendizagem
espontânea e na capacidade de imitação.
Perfil da criança surdocega em relação ao
processo de desenvolvimento
A criança surdocega é portadora de características únicas, que
resultam do efeito combinado das deficiências auditiva e visual.
As características clínicas que definem a criança, do ponto de vista
oftalmológico e audiológico, são insuficientes para prever o
quanto poderá se desenvolver quando imersa num ambiente que
proporcione uma estimulação adequada às suas necessidades
O surdocego necessitará aprender a utilizar os
sentidos remanescentes e/ou os resíduos auditivos e
visuais para o estabelecimento de trocas significativas
e necessárias à sua participação efetiva no ambiente
A falta de audição faz com que a criança
surdocega não possa responder usando a
fala ou o movimento do corpo (ex: voltar-se
para a pessoa que a chama). Outras vezes, o
comprometimento visual pode restringir os
movimentos da criança na exploração
sensóriomotora de seu ambiente físico e
humano.
As implicações das limitações visuais e auditivas nas interações
podem ser minimizadas com a introdução do toque. Muitas crianças
parecem não gostar de serem tocadas por não conseguirem
identificar a origem e o significado do toque. Nesses casos, a
utilização de objetos e/ou toques familiares à criança poderão ser
usados como meio intermediário entre a criança e o professor. Esse
é um fator importante no sucesso das interações.
Na ausência desses cuidados, a criança surdocega poderá
apresentar comportamentos inadequados socialmente, ou seja,
pode desenvolver comportamentos indesejáveis, como
movimentar aleatoriamente as mãos e/ou corpo, emitir sons,
direcionar o olhar compulsivamente para luz, provocar sons em
locais com vibrações mais intensas e tatilmente perceptíveis,
balançar, bater os pés, apertar os olhos, agredir-se, entre outros.
Estes comportamentos reativos são geralmente recursos
utilizados pela criança para substituir a falta dos estímulos
adequados e dão aos educadores informações importantes
quando interpretados numa perspectiva comunicativa.
As informações do mundo deverão chegar à criança de forma
estruturada e sistematizada, para que ela possa começar a
construir seu mundo. Esse procedimento a auxiliará na construção
do conhecimento como um todo, uma vez que a carência de
informações sensoriais tão básicas como a visão e a audição fazem
com que cada criança, quando exposta a um estímulo, consiga
absorver apenas parte dessa informação. Apenas a repetição de
estímulos em contextos significativos poderá assegurar que ela
venha a ser capaz de assimilar a estimulação como um todo.
As crianças surdocegas podem apresentar perfis distintos, em
função de vários aspectos: características da interação que
mantém com o meio, decorrentes do comprometimento dos
sentidos de distância (audição e visão) e da disponibilidade do
meio para interagir com elas utilizando formas adaptadas às suas
necessidades; grau de perda auditiva; grau de perda visual;
outros comprometimentos associados, entre eles o motor e o
neurológico; período de aquisição da surdocegueira.
NECESSIDADES INICIAIS DA
CRIANÇA SURDOCEGA
O objetivo de qualquer programa para uma criança
portadora de necessidades especiais, e especificamente para
crianças surdocegas, é proporcionar o desenvolvimento de
seu potencial singular como ser humano e como membro útil
de sua família e sociedade. O primeiro passo de um
programa de ensino para crianças surdocegas consiste em
fazer com que ela aprenda a utilizar os recursos de que
dispõe. É necessário fazer com que a criança sinta-se à
vontade, segura, e autorize o professor a ficar perto dela,
demonstrando que gosta da sua presença.
ASPECTOS PERTINENTES
A AVALIAÇÃO
A avaliação de uma criança surdocega é desafio. A solicitação ou a aplicação de
testes padronizados para avaliar seu potencial é ineficiente. Pois muitos testes
têm como pré-requisito o uso da audição e visão. Tendo em vista a existência da
barreira de comunicação, fica difícil a avaliação das reais potencialidades da
criança surdocega baseada em atividades para as quais ela não está apta
sensorialmente.
1. Avaliação alternativa: A avaliação alternativa é um processo
contínuo de busca de informações sobre a criança, com vistas a
conhecer e saber o que ela consegue realizar e fazer e, dessa
forma, aprender e compreender mais sobre as habilidades
cognitivas e comunicativas, experiências sociais, comportamentos,
interesses, e estilo de aprendizagem da criança surdocega.
Para retenção ou promoção: Nesse processo, deve-se observar os
seguintes aspectos: Possibilidades de aprendizagem da criança de
alcançar os objetivos propostos; Valorização de sua permanência
com o grupo para favorecer o seu desenvolvimento. Observação
de quais os efeitos emocionais que podem ocorrer após sua
promoção ou retenção.
Equipe de Observação: Informações genéricas sobre os antecedentes da criança.
Neste caso, um ou mais membros da equipe coletará as informações com a família a
respeito dos atendimentos que a criança já recebeu ou recebe. Observação do
comportamento e desempenho da criança : A avaliação do comportamento e
desempenho da criança precisa ser realizada dentro de uma proposta transdisciplinar,
na qual todos os membros da equipe planejem as atividades naturais a serem
propostas e desenvolvidas em situações variadas. Informações especificas de cada eixo
(área do desenvolvimento): Alguns membros da equipe podem propor atividade não
contextualizada à criança surdocega, numa perspectiva tradicional, com o objetivo de
obter informações do seu desempenho em uma área específica.